Fugas - Viagens

  • Daniel Rocha
  • Manuel Roberto
  • Daniel Rocha
  • Manuel Roberto
  • Manuel Roberto
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • AFP
  • Daniel Rocha
  • Manuel Roberto
  • Manuel Roberto

Macau, uma dança perpétua de contrastes

Por Mara Gonçalves

Uma cidade a duas velocidades: um passado de comunhão entre Oriente e Ocidente, um futuro de hotéis de luxo onde a palavra de ordem é reinventar e diversificar.

Contrastes. De um lado as luzes ofuscantes dos hotéis-casinos-centros-comerciais-de-luxo, do outro as igrejas ocidentais e os templos orientais, entre eles os prédios a cair de cinzento, de varandas gradeadas e chapas de zinco. Por um lado, o português de herança histórica e língua oficial que ninguém fala, por outro a cultura chinesa a cada instante, o inglês mínimo para turista. Aqui a tranquilidade das vielas desertas e do tai-chi nos jardins, ali o ritmo alucinante de uma economia que conquista casinos ao rio.

O destino de Macau ainda se joga quase exclusivamente nas salas de sorte e azar, no acumular de impostos em fichas de jogo, e nem a retracção dos ganhos no último ano parece diminuir (para já) o ímpeto da germinação. As últimas contas apontavam para 35 casinos, no final do ano existirá mais uma mão cheia, acoplados a novos hotéis de luxo e uma aposta reforçada no entretenimento, com grandes espectáculos, pequenos shows mecanizados e áreas de diversão temática.

Macau é a Las Vegas do Oriente, dizem. Macau é até sete Las Vegas (quatro se contabilizarmos as receitas de todo o Estado norte-americano do Nevada). Mas é também um centro histórico classificado como Património Mundial pela UNESCO, é calçada portuguesa e dezenas de lojas chinesas, é uma mescla vincada de culturas e realidades que se aprofunda ao brilhar de néons e fichas de jogo. O encanto, dizíamos, está nos contrastes desta dança perpétua. Um copo lotado de dados, todos diferentes. Agita e volta a lançar.

Entre flores e peixe vivo

Pouco passa das 7h e em menos de quinze minutos tudo terá terminado, o minúsculo Cais de Sampanas Sul de volta ao silêncio. Apenas por um momento. Em breve chegarão embarcações com hortaliças e frutas, dezenas de pequenos barcos-táxi trazendo chineses da China à China de Macau. Por agora a azáfama de rostos concentrados negoceia milhares de flores, cada espécie com os caules apertados em tronco, os botões envoltos em folhas de papel ou de plástico, cada encomenda enrolada em papelão e fita cola, os molhos verdes presos sem cuidado especial.

Na plataforma, são as mulheres que se apinham a fazer o negócio. “São comerciantes por conta própria. Têm as famílias no outro lado do rio [já mainland China, como dizem para distinguir das duas regiões administrativas especiais, Macau e Hong Kong] que cultivam as flores e elas vêm aqui vender”, explicar-nos-à pouco depois um dos polícias que controla o cais. Agora não podemos atrapalhar o frenesim de gente que entra e sai de carga ao ombro ou equilibrada em carros de mão. Num ápice tudo fica empoleirado em carrinhas de caixa aberta. “Têm de ser rápidos para distribuí-las a tempo nos mercados.”

Por dia, entram em Macau “cerca de 500 pessoas a partir deste cais”, diz-nos ainda. “Têm de ter uma licença especial e só podem ficar até às 20h.” Nas Portas do Cerco, fronteira terrestre, há 60 mil pessoas em trânsito todos os dias. [No lado de lá, fica a cidade de Zhuhai, um gigante centro comercial de contrafacção, malas e relógios de marca, roupa, bugigangas e produtos electrónicos. É preciso ter visto para cruzar a fronteira]. No final de 2013, a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos de Macau contabilizava mais de 137 mil trabalhadores não residentes no território, 63% vindos da China Continental, a maioria empregada em hotéis, restaurantes, construção e comércio.

--%>