Fugas - Viagens

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Macau, uma dança perpétua de contrastes

No sector do jogo, a roda da fortuna abranda a cada mês. 2014 foi o primeiro ano a terminar em saldo negativo em relação ao ano anterior: menos 2,6% de receitas face a 2013, ficando-se, ainda assim, em cerca de 352 milhões de patacas (39,9 milhões de euros). No final de Junho deste ano, a variação homóloga era de menos 37% de receita bruta acumulada. O abrandamento da economia chinesa e o combate à corrupção encetado pelas autoridades de Pequim — uma das medidas foi a diminuição do número de vistos concedidos e do tempo permitido de estadia da população chinesa em Macau, o principal mercado do sector do jogo (em 2013 representavam 63% do total de visitantes no território) — explicam grande parte do fenómeno. A proibição de fumo nos casinos não virá ajudar — para já existem zonas limitadas onde é permitido, nomeadamente nas salas VIP onde se concentram os grandes apostadores, mas está em aprovação uma “tolerância zero”.

A primeira vez em Macau não nos dá margem de comparação, mas a verdade é que nunca veremos uma sala vazia, nem mesmo de manhã cedo, quando trocamos dinheiro no casino do hotel. É um 24-7 de asiáticos vestidos com a roupa do dia-a-dia, aglomerados em redor de mesas de jogo e slot machines (pela cidade há ainda os Mocha Club, apenas com slots e jogos electrónicos).

Ainda há silêncio em Coloane

Kai Kai (ou será Xin Xin?) olha para nós do lado de lá do vidro, deitado de barriga para cima como numa confortável poltrona, um enorme molho de ramos de eucalipto no colo. O almoço está servido e, a avaliar pelo sôfrego mastigar, a fome aperta. No outro lado, Xin Xin (ou será Kai Kai?) é mais exigente, empoleirada num tronco, o braço esticado à árvore vizinha. O casal bonacheirão é dupla única do Pavilhão do Panda Gigante de Macau, integrado no Parque de Seac Pai Van, em Coloane.

A ilha mais a sul da região administrativa é considerada o “pulmão verde” de Macau, grande parte do terreno (ainda) ocupado por área florestal. É onde ficam as praias, os parques de lazer (o Parque de Seac Pai Van tem outros animais pelo jardim, um Museu Natural e Agrário e parque infantil), de merendas e de campismo, zonas para prática de desportos aquáticos, vários percursos pedestres assinalados e um campo de golfe.

Na pequena vila de Coloane, a tranquilidade mede-se no Largo Eduardo Marques. À hora do almoço, na sombra dos modestos restaurantes que ocupam os dois lados da praceta, cada banco de jardim está ocupado por alguém a fazer a sesta. Nem o gato de rua escapa, espreguiçado no canteiro. Em frente, todos os olhares se focam na colorida Igreja de São Francisco Xavier: as paredes amarelo-ovo de todo o conjunto pintam-se de rebordos brancos, portadas azuis, corações à janela em sequência de vermelho-verde-amarelo. Lá dentro, novo festival de cores, divindades católicas e chinesas lado a lado.

O pequeno areal de Cheoc Van e a comprida e negra Praia de Hac Sa estão praticamente vazios, um grupo de crianças ali, algumas famílias aqui. Quiosques de chapa vendem carnes grelhadas, sumos e artigos de praia, o som dos geradores é quase o único que se ouve. Pouco depois, a estrada do alto de Coloane leva-nos a novo e imaculado silêncio, feito de pedra e madeira ricamente trabalhada, de dragões talhados e desenhos de ouro, vermelho e azul. O Templo de Ma-Cho, construído em 2004, é um gigante entre o cume verde da ilha, tão grande quanto despido de vida, talvez mais impressionante por isso mesmo. Segundo Alorino, faltam terminar as obras do restaurante e dos quartos que receberão os peregrinos. Fiquemos então com este silêncio por mais um momento.

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