Fugas - Viagens

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    A península de Akamas, na parte ocidental, é uma das regiões menos exploradas da ilha St Gerardi
  • Aqueduto de Kamares
    Aqueduto de Kamares St Gerardi
  • As igrejas são testemunhas da fé e as montanhas de Troodos sempre foram, ao longo dos tempos, lugar de refúgio
    As igrejas são testemunhas da fé e as montanhas de Troodos sempre foram, ao longo dos tempos, lugar de refúgio Cyprus Tourism Organization
  • É no Chipre que se faz o vinho mais antigo do mundo
    É no Chipre que se faz o vinho mais antigo do mundo Cyprus Tourism Organization
  • Praia de Dasoudi, em Limassol
    Praia de Dasoudi, em Limassol F. Cappellari
  • Amphora Cave Dive, em Aya Napa
    Amphora Cave Dive, em Aya Napa Scubacube
  • Teatro Kourion, em Limassol
    Teatro Kourion, em Limassol F. Cappellari
  • Baía de Nissi, em Aya Napa
    Baía de Nissi, em Aya Napa Cyprus Tourism Organization

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Segredos bem guardados na ilha da deusa do amor

Aqui e ali, algumas dezenas de peregrinos que logo se embrenham pelo interior, depositando os lábios nos ícones e rogando as suas preces a um santo, a um apóstolo e à Panagia. Figura máxima da igreja oriental, a Virgem Santíssima vela em diferentes lugares de culto ao longo da ilha, na maior parte das vezes identificada não pelo nome mas de acordo com epítetos topográficos, como Trooditissa (referência a Troodos) ou Phorbiotissa.

A 8 de Setembro, celebra-se o seu nascimento e, nesse dia, os fiéis acorrem ao mosteiro que se orgulha de possuir um dos três ícones da Virgem pintados por São Lucas no tempo em que a Santíssima ainda era viva. Kykko foi fundado em 1100 mas reconstruído em pedra em 1831, na sequência dos estragos provocados por alguns incêndios ao longo dos séculos. Uns anos mais tarde, o mosteiro foi pilhado pelos turcos mas não teve de esperar muito mais tempo para herdar as terras dos fiéis que se recusavam a pagar as taxas prediais aos invasores.

Como consequência deste súbito enriquecimento, o mosteiro transformou-se no maior proprietário de terrenos em toda a ilha e num centro vitícola de excelência; todos os anos são retiradas das caves mais de um milhão de garrafas de vinho, entre as quais o famoso Commandaria, já documentado em 800 a.C. e considerado o vinho mais antigo do mundo que ainda é produzido. 

No interior, multiplicam-se os beijos, os crentes vão esperando pacientemente a oportunidade de demonstrar a sua fé perante Cristo, os apóstolos, os santos, a Virgem e, mal a missa e a procissão terminam, procede-se à distribuição do pão e à repartição da koliva (um prato guarnecido de amêndoas, outros doces e de cereais). Por agora, alguns visitantes ainda se detêm por mais uns minutos em frente da imagem de São Lucas, bem protegido por um véu e rodeado de pernas e diferentes órgãos humanos em cera, testemunhos de uma fé sem limites nestas montanhas que ao longo dos tempos serviram de refúgio a todos os que tentavam escapar aos povos invasores decididos a dizimar Chipre — como a família dos Lusignan (1192 a 1489), os venezianos (1489 a 1571), os otomanos (1571 a 1878) e os ingleses (1878 a 1960).

Na sua luta pela independência, também os resistentes do EOKA (Ethniki Organosis Kyprion Agoniston), organização nacionalista da luta cipriota, encontraram um porto seguro nas alturas de Troodos e o mosteiro de Kykko, ainda hoje abrigando pouco mais de duas dezenas de monges que vão espalhando a chama da ortodoxia, permanece como um lugar que apela à memória, até ao tempo em que o arcebispo Makarios aqui fez a sua formação no início do século.

Figura incontornável da Enosis (união de Chipre à Grécia), Makarios tornou-se presidente após a independência, em 1960, e, embora sendo líder do braço político da EOKA, sempre se opôs à luta armada, preferindo encontrar uma solução para o conflito com os turcos através do diálogo mas sem conseguir evitar a divisão da ilha, em 1974, três anos antes da sua morte.

Rumo ao norte

Já a caminho de Nicósia, a cidade dividida, passo por aquela que é justamente considerada a mais magnificente e mais impressiva de todas as igrejas de Troodos que integram a lista de Património Mundial da UNESCO. Inteiramente coberta de frescos, a Panajia tou Asinou não deixa ninguém indiferente e é o único edifício ainda de pé da estrutura que compunha o antigo mosteiro de Phorbia, fundado em 1099 — se bem que o nártex e as duas absides com que foi dotada remontem a uma data posterior (século XII).

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