Para ocidente, Alsancak, a apenas dez quilómetros de Kyrenia, é uma aldeia serena, no sopé das montanhas por onde correm a esta hora algumas nuvens de um branco imaculado, e foi construída sobre as ruínas de Lambousa, uma das dez antigas cidades-reino de Chipre. Em Alsancak, para os gregos Karavas, não falta potencial turístico e, a despeito de manter o seu charme e de preservar algumas tradições, da simpatia das suas gentes e da qualidade do café turco que se serve nas suas ruas, nos últimos dois anos o número de turistas e mesmo de residentes tem aumentado substancialmente.
A meio da manhã, agora que o Verão se despede, respiro serenidade, tanto na aldeia como na Escape Beach, uma toponímia que me cativa menos do que Çikarma Plaj, como também é conhecida e que se pode traduzir por praia do desembarque — o lugar onde, na verdade, desembarcou a marinha turca, em 1974 (tendo também a aldeia o museu da paz e da liberdade, reminiscência da confrontação militar).
Alsancak e Kyrenia, especialmente esta última, são alguns dos melhores lugares em toda a ilha para a prática do mergulho. Receio afundar-me mais facilmente do que um antigo barco grego e sigo até Famagusta, depois sempre ao longo da costa sul cheia de prédios subindo nos céus e, quando a tarde ameaça extinguir-se, chego a Paphos respirando o amor que emana de Afrodite. Embora turística, é uma cidade que me agrada, com os seus bons restaurantes, uma atmosfera mais tranquila do que, por exemplo, Larnaca ou Aya Napa e tem como vizinha Petra tou Rominou, por vezes tão cheia de gente e vazia de silêncio mas eternamente irresistível.
Aqui, observando as rochas subindo das águas, as suas baías tão delicadamente recortadas, deixo que o dia expire e as tonalidades do ocaso pintem o mar de vermelho. Petra tou Rominou nunca se divorcia da sua aura mágica que transporta o viajante até às raízes mais profundas dos primeiros habitantes da ilha e, agora que o céu se cobre de estrelas, já não acredito que Afrodite, deusa do amor, da beleza e da fertilidade, possa emergir das profundezas sentada numa concha com a ajuda de golfinhos. Talvez amanhã. Ou na Primavera. Quando as cerejeiras voltarem a florir.
Guia prático
Quando ir
A melhor altura para visitar a ilha é na Primavera ou no Outono, quando as temperaturas são mais agradáveis. No Verão, especialmente em Julho e Agosto, os termómetros ultrapassam com frequência os 40 graus. Situado na parte oriental do Mediterrâneo, logo a sul da Turquia, a norte do Egipto e a sudoeste da Grécia, Chipre beneficia de um clima tipicamente mediterrânico, com muitos dias de sol.
No entanto, o calor é mais intenso nestas paragens do que em qualquer outra zona banhada por aquele mar (a temperatura da água supera facilmente os 25 graus no pico do Verão). Há algumas — mas poucas — variações climáticas que resultam da presença de duas cadeias montanhosas, uma a Troodos, que se eleva a pouco mais de 2000 metros, abraçando quase todo o sudoeste da ilha, e a outra, menos imponente, a Kyrenia, na parte norte-centro, ambas protegendo a planície central Mesaoria (significa literalmente entre as montanhas, em grego) e uma parte considerável da costa oriental — daí resulta um clima semiárido e escassa queda de precipitação.