Fugas - Viagens

  • A península de Akamas, na parte ocidental, é uma das regiões menos exploradas da ilha
    A península de Akamas, na parte ocidental, é uma das regiões menos exploradas da ilha St Gerardi
  • Aqueduto de Kamares
    Aqueduto de Kamares St Gerardi
  • As igrejas são testemunhas da fé e as montanhas de Troodos sempre foram, ao longo dos tempos, lugar de refúgio
    As igrejas são testemunhas da fé e as montanhas de Troodos sempre foram, ao longo dos tempos, lugar de refúgio Cyprus Tourism Organization
  • É no Chipre que se faz o vinho mais antigo do mundo
    É no Chipre que se faz o vinho mais antigo do mundo Cyprus Tourism Organization
  • Praia de Dasoudi, em Limassol
    Praia de Dasoudi, em Limassol F. Cappellari
  • Amphora Cave Dive, em Aya Napa
    Amphora Cave Dive, em Aya Napa Scubacube
  • Teatro Kourion, em Limassol
    Teatro Kourion, em Limassol F. Cappellari
  • Baía de Nissi, em Aya Napa
    Baía de Nissi, em Aya Napa Cyprus Tourism Organization

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Segredos bem guardados na ilha da deusa do amor

O barco, com um comprimento de 14 metros e feito de madeira de pinheiro de Aleppo, na Síria, foi descoberto há precisamente 50 anos por Andreas Kariolou, um mergulhador cipriota-grego, carregado de ânforas de vinho provenientes das ilhas gregas de Kos e Rhodes, tendo naufragado na sequência de uma forte tempestade mesmo à entrada do porto de Kyrenia (a equipa de arqueólogos que estudou durante cinco anos o naufrágio admite que a embarcação tinha já 80 anos quando foi engolida pelas águas do mar).

O castelo conta também com uma cisterna e uma masmorra — e esta última, se falasse, teria uma história trágica para contar: nela foi torturada a graciosa Joanna l’Aleman, amante do rei francês de Chipre, Pierre De Lusignan I (1328-1369), por ordem da sua mulher ciumenta, a rainha Eleanora.

Do castelo vê-se a cidade e a cidade não é só o castelo. A parte velha, com algumas bonitas mansões venezianas, como o edifício de três andares que acolhe o museu de arte popular, deve ser percorrida calmamente, sentindo como é diferente o ritmo entre uma urbe do norte e uma do sul, a maior parte delas colonizadas pelo turismo.

Da cidade avista-se outro castelo: o de St. Hilarion, assim designado por ter acolhido, no dorso da colina, um monge eremita que, vítima de perseguição, fugiu da Palestina; mais tarde, na área em redor do túmulo do santo, foram erguidas uma capela e um mosteiro bizantinos e, já no século XII, um forte. Apelidado de “Deus do Amor” pelos reis franceses que, nos meses de Verão, em busca de uma temperatura mais amena, aqui se instalavam, o castelo de St. Hilarion foi ocupado pela Organização de Resistência Turca na década de 1960 após ter bloqueado a estrada que liga Kyrenia a Nicósia.

Kyrenia dá nome também a uma cadeia montanhosa que se estende ao longo de 160 quilómetros pelo Norte de Chipre, oferecendo a possibilidade de ser apreciada a pé, muitas das vezes seguindo por antigos caminhos de cabras. Por este território quase sempre impregnado de solidão, sem grande pressa acaba-se por deparar (a escassos quilómetros de Kyrenia) com o castelo Buffavento, 950 metros acima do nível das águas do mar, e, partindo daí, sempre com o mar à direita, são umas três horas até chegar à abadia Bellapis (abadia da paz), em turco Beylerbeyi, em cuja aldeia viveu Lawrence Durrell, inspirando-se para escrever o já citado Limões Amargos.

O cabo da frigideira

Para oriente de Kyrenia, até ao cabo Apostolos Andreas, no nordeste da ilha, estende-se a pacata península de Karpas, com a sua forma (visto o mapa da ilha) em cabo de frigideira. O trânsito é escasso, as bonitas e solitárias praias sucedem-se umas atrás das outras e, em poucos minutos, o cenário convida-me a fazer uma paragem. Grande parte da tarde, agora de um céu todo azul, passo-a a explorar a área em volta do castelo de Kantara, também situado na península de Karpas e alegadamente o lugar onde Isaac Comneno se terá rendido a Ricardo, Coração de Leão, durante as Cruzadas. 

Uma lenda diz que o castelo engloba 101 divisões e aquele que encontrar a última tem lugar assegurado no paraíso. Mas eu prefiro concentrar-me na panorâmica que se me oferece à contemplação, o norte da ilha para ocidente e para oriente e, à distância, no dia de boa visibilidade, disse-me um ancião em Kyrenia, fazendo-me companhia enquanto tomava um café, até é possível ver as montanhas da Turquia e mesmo do Líbano.

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