Fugas - Viagens

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O céu ainda pode esperar, há outro paraíso na terra

Um mar de mansidão

A partir daqui, a despeito de uma luz pesada, a força do cenário é arrebatadora. A pouco e pouco, com os ruídos do centro citadino perdendo-se no horizonte, Guilin começa a cativar o viandante e a atenuar a ansiedade de sulcar as águas do rio Li, em direcção a Yangshuo. Não é fácil virar as costas ao panorama que é dado a contemplar, da mesma forma que não é difícil associá-lo somente a outros dois: a baía de Halong, no Vietname, e algumas paisagens do sul da Tailândia.

O rio é, por estes dias, um mar de mansidão, vigiado por montanhas que recortam o céu de um azul pálido. Num penhasco, ainda na colina que homenageia o general, entro num pavilhão com dois andares, levantado já na segunda metade do século passado e pomposamente chamado o pavilhão onde se escutam as ondas. Não há ondas. Apenas oiço um silêncio apaziguador que, como uma brisa suave num dia de Verão, transporta energia para continuar a descobrir as pérolas de Guilin.

Chego de barco (único acesso possível) e, à minha frente, ainda na colina Fubo, desenha-se a entrada de uma gruta. Reza a lenda que aqui viveu, há muitos, muitos anos, um dragão. Um dia, o dragão adormeceu e, durante o sono, a sua pérola foi roubada. Num outro dia, uns tempos depois, a pérola voltou. É a gruta da pérola retornada, para os chineses a Huanzhu Dong, com as suas esculturas esculpidas na pedra que contemplam, entre outros, budas das dinastias Song e Tang, um auto-retrato de Mi Fu, um famoso pintor, e um poema do já referido Fan Chengda.

Envolvido neste passado intangível e escutando o rumor que sobe da cidade, toco a barriga da colina, onde está situada a gruta dos Mil Budas, obras-primas, uma vez mais, da dinastia Tang. Não são mil mas umas três centenas: um erro de cálculo sem significado quando se aprecia a expressão de serenidade que emana destas figuras talhadas na pedra que parecem sorrir ao turista de uma forma benevolente.

Ao longe, as montanhas mantêm-se abraçadas por um halo de bruma – assim as observo desde Diecai Shan, mais uma colina, a norte da Fubo, com os seus imponentes quatro picos como sentinelas. Desde aquele que é um dos parques mais frequentados em Guilin, a visão é ainda mais esmagadora – justamente pode ser considerada a melhor perspectiva –, o rio, estendendo-se como um fio de prata, produz sobre quem lhe planta o olhar um encanto ao qual é difícil resistir e exacerba como nunca o desejo de escutar o marulho das suas águas correndo pelo meio das montanhas que ameaçam tocar os céus (e não tenha dúvidas de que crescem porque nesta zona os ácidos carbónicos são mais baixos na água das chuvas do que no solo, mais exposto à erosão) e que atraem outras montanhas de curiosos.    

O pináculo é atravessado pela Fengdong, a gruta do vento (sopra uma brisa constante ao longo de todo o ano), com duas grandes bocas que engolem os turistas de um dos lados e uma outra, tão estreita que não permite a passagem a mais do que uma pessoa de cada vez, do outro lado. No interior, há quase uma centena de esculturas de budas (novamente das dinastias Song e Tang), bem como dezenas de inscrições na pedra pertencentes a estas dinastias e a algumas das subsequentes.

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