Fugas - Viagens

  • Miguel Manso
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Boston, a revolucionária tranquila

À qual não faltou, e não é uma questão menor nestas paragens, uma incipiente democracia: uma vez que não estavam no território para eles designado, os sobreviventes da viagem e do primeiro Inverno na Nova Inglaterra decidiram uma espécie de emancipação e forma de auto-governo a que chamaram o “Mayflower Compact”, a base das regras que ditariam a vida da nova comunidade em que cada um contribuiria para o bem-estar comum.

Nesta improvável mistura de puritanismo religioso (o mesmo que dizer, conservadorismo) e liberalismo social e político se forjou Boston como farol da Nova Inglaterra e ainda hoje olhada por uma certa América, profunda e conservadora, como um perigoso ninho de intelectuais radicais — e políticos, veja-se o exemplo mais querido, John F. Kennedy, presidente dos EUA, nascido no Massachusetts, congressista e senador do estado.

Para tal não é indiferente o facto de albergar algumas das mais prestigiadas universidades do país (são aliás, mais de 50 as instituições de ensino superior na órbita de Boston): o Massachusetts Institute of Technology (MIT), pólo científico por excelência, a Boston University e Harvard, a mais antiga (1636) e (re)conhecida. E nisto de “o mais antigo” Boston gaba-se de vários: do mais antigo parque público ao mais antigo restaurante, passando pela mais antiga escola pública, a mais antiga biblioteca pública e até o mais antigo estádio de beisebol da Major League, a cidade alberga a antiguidade norte-americana. Isto apesar de Filadélfia ter algumas reivindicações idênticas, como notam com ironia bem-disposta alguns norte-americanos, e de, claro, ter sido o palco da Declaração da Independência (1776). Quanto a isso, é um bostonian convicto — e proselitista, ou não fosse guia dos famosos Duck Tours, omnipresentes em Boston, “por terra e água” (veículos anfíbios) — que contrapõe com humor: “Nós aqui lutámos, eles lá assinaram um papel.”

Assinar papéis é o que propõe a petição de uma associação diante de um dos cenários mais fotografados de Boston: o moderno a espelhar o antigo na Copley Square — um século separa estes dois ícones arquitectónicos da cidade, a Hancock Tower, edifício de I.M. Pei, versus a Trinity Church. Na manhã em que os EUA, e o mundo, acordaram com a notícia do massacre numa discoteca gay em Orlando, pede-se a proibição das armas. Coincidência: em Boston termina a semana do orgulho gay e por todo o lado se vêem bandeiras arco-íris que nessa manhã são acompanhados por memoriais, como o que vemos diante da Arlington Street Church (em frente ao jardim público da cidade), com velas, palavras escritas a giz no passeio onde se actualizam o número de mortos e se escreve “black lives matter”.

Aqui sempre foram importantes, atrevemo-nos, ou não tivesse sido a cidade um dos mais activos pólos abolicionistas do país, e há mesmo um Black Heritage Trail que permite descobrir a história da comunidade negra na capital do estado que foi o primeiro a abolir a escravatura, logo em 1783, como forma de agradecimento à comunidade negra pela sua participação na Revolução Americana. É, aliás, a Guerra Revolucionária, que opôs os “patriotas” aos colonizadores britânicos (e que terminaria com o nascimento do novo país), que compõe grande parte do tecido histórico de Boston, epicentro do início da contestação e da luta armada.

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