Fugas - Viagens

  • Miguel Manso
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Boston, a revolucionária tranquila

A caminho do West End não há, contudo, parque que esconda o massivo edifício conhecido genericamente por Government Service Center, apontado por ser um dos mais odiados da cidade, estilo arquitectónico brutalista e um dos muitos cenários do filme The Departed em Boston. Foi um dos edifícios icónicos da renovação do West End nos anos de 1950 — onde muitos imigrantes, sobretudo italianos, irlandeses e judeus do Leste Europeu, encontraram nova casa (entre eles, Leonard Nimoy, o Mr Spock de Star Trek, que aqui nasceu, filho de um barbeiro judeu ucraniano) —, antes um bairro pobre, feito de ruelas estreitas e cortiços num bairro de prédios altos, centros comerciais e parques de estacionamento. A lembrança desses tempos ergue-se como uma ilha entre vias rápidas nas margens do rio Charles: o prédio estreito de tijolos vermelhos, quatro andares e cartaz publicitário da Apple a preencher uma das paredes laterais é conhecido como The Last Tenement House (“o último cortiço”) e um dia albergou “dezenas e dezenas de pessoas”.

A Antiguidade americana

Não seguimos ainda para West End, pois até aqui muito há que contar. Para trás ficou o início da colonização no cemitério mais antigo de Boston, o de King’s Chapel (como a igreja que lhe dá nome, fachada em colunas e interior branco e bordeaux, onde se preserva o único sino forjado por Paul Revere), lápides, gastas e negras, de, entre outros, o primeiro governador puritano do Massachusetts, John Winthrop, e da primeira mulher europeia na Nova Inglaterra, uma das “peregrinas” originais, Mary Chilton. Incongruente, quase, o espaço relvado, exíguo, debaixo de árvores, por detrás de grades e rodeado de altos edifícios que é o cemitério Granary (1660) — novamente lápides gastas e tortas, muitas bandeirinhas dos EUA, ou não estivessem aqui enterrados alguns dos heróis da Guerra Revolucionária, incluindo Paul Revere, que merece destaque.

De outras histórias se faz o Omni Parker House, do outro lado da rua, o mais antigo hotel em funcionamento contínuo do país, ainda que o edifício já não seja o original — aqui foi inventada a famosa Boston cream pie (a sobremesa oficial do estado). E já que é de doces que se fala, a passagem por uma loja Dunkin’ Donuts provoca ironia: “Este é um avistamento raro em Boston. Só há 100 mil destes num raio de 50 milhas em redor” (não sabemos se à ironia se junta a hipérbole). Estamos na chamada downtown Boston, e a dois passos a Washington Street é a artéria comercial tradicional, com lojas tão reconhecíveis como os armazéns Macy’s. Em pracetas ouve-se música clássica, pede-se dinheiro com uma “ameaça” escrita em cartão (“Give me one dollar or i’m voting Trump” — ouvimos dizer que é uma intimação vista noutras cidades americanas) e no fim da rua estamos diante da sede do governo colonial, a Old State House, onde em 1770 aconteceu o chamado Massacre de Boston.

Cinco civis foram mortos aqui, outros dois morreram mais tarde, às mãos do exército colonizador em mais um episódio que alimentou o sentimento emancipatório da colónia e que foi capitalizado pelos patriotas; em 1776 foi da sua varanda que pela primeira vez foi lida a Declaração da Independência aos cidadãos de Boston. Posteriormente, foi sede do governo da Commonwealth of Massachusetts e actualmente, diante da varanda cor de creme contra os tijolos vermelhos do edifício, desenha-se no chão um círculo que recorda o massacre. Contudo, curiosamente, o leão e o unicórnio símbolos da monarquia britânica continuam a tutelar o edifício — cópias, já que os originais foram destruídos nos idos da revolução. Um guarda vestido a rigor convida os visitantes a entrar — se o tivéssemos feito teríamos visto, por exemplo, um frasco de chá que resistiu ao Boston Tea Party (tudo menos uma festa — o motim “original” contra os britânicos — e nenhuma relação com o movimento ultraconservador Tea Party), um mosquete usado numa das batalhas da Guerra Revolucionária, um tambor usado noutra...

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