Fugas - Viagens

  • Miguel Manso
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Boston, a revolucionária tranquila

A herança negra

É simbólico, apenas, o nosso início: imaginemos que começamos a nossa incursão bostoniana no Boston Common (que até tem um posto de turismo e é mesmo a primeira paragem do Freedom Trail — e é o tal parque público mais antigo do país). É pelo professor Quackenstein que conhecemos o primeiro uso do Boston Common, foi como pasto de vacas e palco de enforcamentos (incluindo o de Mary Dyer, uma quaker, que se tornou símbolo da intolerância religiosa puritana tendo inspirado, mais de um século após a sua morte, a promulgação da primeira emenda constitucional que separa o Estado da igreja e garante “liberdade de consciência” a todos os cidadãos).

Ao fim-de-semana a pequena colina relvada é um mar de gente sentada, deitada, como se de uma praia se tratasse, o campo de softball está ocupado; durante a semana é mais tranquilo, com as bancas de comida a montarem-se a meio da manhã e muitas amas a empurrarem carros de bebé. Num dos seus cantos, em frente à State House, uma homenagem ao 54.º regimento voluntário de infantaria do Massachusetts no Memorial Robert Gould Shaw, o abolicionista que liderou esta que foi uma das primeiras unidades oficiais de infantaria constituída por negros durante a Guerra Civil, formada após a Proclamação da Emancipação em 1863, e que prestou um serviço intenso no exército da União (a sua história foi contada no filme Glória).

Curiosamente, estamos aos pés de Beacon Hill, o bairro mais antigo e afluente da cidade (por exemplo, indica-nos o nosso guia, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, tem morada no número 57 numa das ruas), no seu South Slope, onde a maioria dos habitantes, brancos e ricos, eram fervorosos abolicionistas. Tal serviu como incentivo para que negros livres se instalassem no North Slope e no vizinho West End no início do século XIX, onde chegaram a formar a segunda maior comunidade do país e um dos pontos mais procurados do Underground Railway, uma rede de rotas secretas e casas seguras que, no século XIX, ajudavam os escravos a fugir dos estados esclavagistas para os estados livres. Mesmo após a Guerra Civil esta zona continuou a ser um ponto central da comunidade afro-americana, que aqui desenvolveu uma forte consciência política, e toda esta memória está preservada no Black Heritage Trail, que entre vários edifícios pré-Guerra Civil passa pela African Meeting House, a mais antiga igreja negra (1806) ainda de pé nos EUA.

Voltamos ao South Slope para uma curiosidade que demonstra o espírito empreendedor bostoniano. Não muito longe daqui foi a sede da companhia que levou gelo ao mundo — no início do século XIX. Um astuto (e aventureiro) homem de negócios, Frederick Tudor, começou a recolher o gelo dos lagos gelados pelo rigoroso inverno da Nova Inglaterra e vendeu-o para todo o mundo: começou pelas Caraíbas e chegou à Índia. Se o rigoroso Inverno desaconselha visitas, os tórridos verões também não são propícios a passeios. Imaginamos como será o Outono por estes parques de Boston — são muitos, alguns incluídos no Emerald Necklace (445 hectares de uma cadeia de espaços verdes) — com a folhagem a pintar-se de vermelhos, amarelos, laranjas.

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