Fugas - Viagens

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Trás-os-Montes: Quando os veados deixam de ser fantasmas

Paramos porque o vimos e também porque aqui se abre um vale onde os avistamentos são comuns. Noutro monte mais longínquo, um jipe branco parado parece fazer o mesmo que nós: perscrutar as encostas em busca de veados. É uma tarefa que exige paciência e olho bem afinado, “muitas vezes eles estão deitados e as galhas confundem-se com a vegetação”, que aqui é rasteira, um tapete de urzes, giestas, estevas, alfazema selvagem e ervas aromáticas, como o tomilho. A serra da Culebra, em Espanha, está no horizonte (em breve será substituída pela Sanabria), onde o sol se levanta, “os veados vêm [daí] e ocupam o norte do planalto de leste para oeste”.

Normalmente dormem junto a correntes de água, nos vales, depois instalam-se nas meias encostas ou passeiam-se na crista das encostas. Não voltamos a ver o veado, apenas ouvimos “o som que bate no peito”, como o descreve Luís Costa. Contudo, esta é uma das áreas do parque natural “onde o veado nunca se extinguiu”. “Chegaram a ser só cem e há seis, sete anos ultrapassavam 600. Agora são mais.” Passa uma fêmea para o lado de Espanha, mas nenhum macho a segue. Esperamos e o guia decide a próxima paragem: seguiremos os sons, que vêm do lado português, passando por Rio de Onor, onde pararemos no regresso.

Por agora há que aproveitar o tempo: normalmente, a brama termina poucas horas depois do nascer do dia. A estrada, pontuada por alguns soutos, fica definitivamente para trás e encaminhamo-nos por trilhos de terra que rasgam o planalto, ou melhor, os planaltos que se vão desvendando entre subidas e descidas. Aqui e além velhas ruínas revelam ser os “corriços”, onde o gado pernoitava – um recuperado é o apoio de uma pequena, e inusitada, vinha, murada.

Ainda não chegamos ao planalto onde passará a fêmea a correr quando o jipe pára subitamente. Bem à nossa vista uma fêmea, outra e outra, vão surgindo em fila indiana. Olham-nos directamente e logo nos ignoram. Nova espera, pelo macho, “não há-de andar longe”. Mas estes continuam esquivos, preguiçosos diríamos – as fêmeas desaparecem na encosta e nós seguimos para a colina adiante, na esperança de voltarmos a vê-las. Esta é uma caça, mas apenas o olhar (e as máquinas fotográficas) caçam.

Estamos sozinhos diante dos montes pardos que se interrompem em vales profundos e arvoredos aqui e ali. O horizonte é vasculhado, na esperança de ver repetido o encontro de fêmeas com machos. Os bramidos soam aqui mais fortes, cristalinos a cortar o ar, vindos de várias direcções. “À noite ouvem-se de forma diferente, mais nítidos”, explica Luís, mas vê-los só mesmo com infravermelhos. A Anda D’I também promove passeios nocturnos, esses à medida, para um público mais especializado – da mesma forma, também o faz para saídas diurnas, com outras exigências, nomeadamente a disponibilidade para caminhar seguindo as pistas dos veados (os excrementos, por exemplo, que “parecem azeitonas”). Este de que nós desfrutamos é, declaradamente, mainstream”, como o descreve Pedro Morais, da RTFT – veja-se o jipe que nos leva quase até aos pontos onde as probabilidades de avistamento são maiores.

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