Fugas - Viagens

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    Parque Natural de Montesinho Hugo Santos
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Trás-os-Montes: Quando os veados deixam de ser fantasmas

Bragança: A cidade com uma “vila” no coração

Manhã na serra, tarde na cidade – seguimos à risca o programa Brama dos Veados, com Luís Costa a prosseguir como guia. O calor é grande mas não morde, e o centro histórico de Bragança vive na calmaria. Estamos à sombra da torre de menagem à espera que na igreja de Santa Maria termine uma cerimónia. Estamos, portanto, no coração da cidadela, a antiga “vila”, protegida por muralhas e ainda hoje constituindo um mundo à parte na cidade transmontana. É território eminentemente medieval, feita de ruelas que se atravessam nas suas duas vias principais, paralelas, a mais importante a que liga as duas portas, a de Santo António, também conhecida como Porta da Vila, e a do Sol, do lado nascente, quase em linha recta.

Não se vêem muitas pessoas. Há umas poucas deambulando pelas muralhas, nas esplanadas ainda menos, as que sairão da igreja rapidamente se dispersarão, há uma festa num recanto ao lado da muralha no que é um novo espaço relvado da icónica taberna O Celta, em algumas vielas marginadas por vasos vizinhos conversam sentados nos degraus das portas, uma mulher estende roupa na varanda de madeira verde numa casa à beira da porta de Santo António.

Chegamos num período difícil, dizem-nos. O apogeu do Verão já passou – e com ele as férias de muitos portugueses –, o Outono ainda não assentou com aquela transformação que parece assentar na perfeição a estas paragens. Neste período de transição, então, o comboio turístico da cidade, preto e amarelo, chega à igreja de Santa Maria vazio e o condutor está ao lado, sem esperança de ter clientes. No Inverno não funciona, “não faz sentido”; no Verão “tem pouco movimento”. “É a falta de plano de turismo”, diz Nuno, rapaz jovem que não perde oportunidade de dar a sua opinião.

De que outra forma se explica, por exemplo, o comércio fechado ao fim-de-semana?, interroga. “Em Miranda [do Douro] está aberto”, exemplifica, “e temos de começar por algum lado”. “E, aqui”, lamenta Carlos, referindo-se à cidadela, “até entristece”. “Quem viu há 20 anos... Mesmo quem é de Bragança só vem para casamentos ou baptizados. Descaracterizou-se muito e as pessoas saíram.” Nem todas e vêem-se obras em algumas fachadas, outras já estão mesmo restauradas (a mesma dinâmica se vê no centro fora das muralhas), mas muitas adivinham-se algo decrépitas.

Claro que a cidadela há muito que já não é o centro cívico e comercial da cidade. Mas continua a ser o seu ponto mais emblemático, com as suas várias camadas de história. Afinal, aqui houve castro, a Brigantia romana, por aqui passaram suevos, visigodos, muçulmanos e aqui Portugal ergueu um dos seus castelos fronteiriços, uma afirmação da recém-adquirida independência. Porque a primeira versão do castelo foi construída por D. Sancho I, tendo depois sido ampliada por D. Dinis, e profundamente renovada no reinado de D. João I, quando ultrapassada a crise dinástica se implantou a torre de menagem de 34 metros (com o escudo de armas do monarca numa das fachadas), altura invulgar em fortificações do Norte do país. Seria ainda alargado nos séculos XVII e XVIII e no século XIX assistiu às últimas batalhas durante as Invasões Napoleónicas. Foi aquartelamento militar até ao século XX e agora alberga, na torre de menagem, um museu militar.

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