Fugas - Viagens

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De Vespa numa Toscana de trufas e silêncio

Grandes navios, comboios, aviões. Quando a empresa fundada em 1884 em Génova comprou uma nova fábrica em Pontedera, o veículo de duas rodas estava ainda muito longe dos planos de Rinaldo Piaggio e da sua equipa de engenheiros. Era então uma das principais empresas de Itália na área dos transportes, com um foco crescente no mercado aeronáutico militar. Mas a Segunda Guerra Mundial foi particularmente devastadora para Itália. E para a Piaggio também. A sua vocação militar tornou-a alvo de bombardeamentos dos Aliados, destruindo parte das fábricas, e a situação política, económica e social do pós-guerra pedia um novo rumo de produção.

Enrico Piaggio, um dos filhos do fundador da empresa e que tinha entretanto ficado responsável pela fábrica de Pontedera, queria adaptar a empresa à nova realidade e contribuir para a resolução do problema entretanto surgido no sector dos transportes. A ideia era construir um veículo “barato, que consumisse pouca gasolina e pudesse ser conduzida por toda a gente, mulheres incluídas”. Pouco depois, surgia o primeiro protótipo da icónica motorizada. O som do motor e a estranha forma da mota assemelhavam-na a uma vespa — e assim surgia o icónico nome. A primeira Vespa foi comercializada em 1946 — fez em Abril 70 anos. O museu, criado em 2000, atravessa toda a história da empresa para culminar numa exposição dos principais modelos da Vespa (e da Gilera, adquirida pela Piaggio em 1969), na qual é possível acompanhar a evolução dos tempos — do país e da revolucionária motorizada. Entre as dezenas de modelos, destaca-se a Alpha, construída com uma hélice no topo para o filme Dick Smart, Agent 2007, ou o exemplar com desenhos e assinatura de Salvador Dalí.

De aldeia em aldeia

Pontedera é a principal cidade da zona de Valdera. Desenvolveu-se e fez-se cidade com a fábrica da Piaggio e, por isso, é ainda hoje uma localidade essencialmente industrial e comercial, foco da oferta cultural e de serviços na região. Com o virar do milénio, a cidade quis modernizar-se, trazendo arte contemporânea ao espaço público. Desde então, surgiram bancos de jardim esculpidos nas mais estranhas formas, grandes esculturas e murais. Na praça Garibaldi concentram-se as peças mais afamadas, incluindo um mural desenhado por Enrico Baj, o último grande trabalho do artista italiano, inaugurado postumamente em 2006. Passaríamos pelos seus coloridos robots antropomórficos no dia seguinte, mas agora subimos à Vespa. Direcção: Palaia.

No caminho, quase a chegar à pequena aldeia, surge sobranceiro à estrada um enorme edifício abandonado. Descobriríamos depois ser parte de Villa Saletta, a histórica fattoria agrícola onde Zela trabalhava. O pequeno burgo medieval, que inclui duas igrejas, chegou a pertencer à família Riccardi, brasão intimamente ligado à poderosa família Médici, que lideraria a vida política, económica e cultural da Toscana durante o Renascimento italiano. No século XVI era construído o palácio e em meados de 1760 começavam a surgir os edifícios envolventes para acomodar os trabalhadores, tornando-se um importante testemunho do nascimento e desenvolvimento do fenómeno das “vilas-fazenda”. Entretanto remetida ao abandono, a propriedade foi passando de mãos britânicas em mãos britânicas, sem que os planos para ali construir um grande hotel de luxo e um campo de golfe tenham chegado a ver a luz do dia. Segundo o La Nazione, 2017 será o ano de viragem. “A ideia é criar uma comunidade residencial de alto nível, que possa contar com cerca de 150 quartos”, avançava em Abril o director-geral da empresa ao jornal regional. No projecto consta ainda “um restaurante, uma piscina, spa e áreas desportivas”.

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