À mesa da Toscana
Em 2014, Casciana Terme e Lari agregaram-se num único município, com pouco mais de 12 mil habitantes. A primeira é bastante turística, graças ao enorme complexo termal que desenvolve a partir da praça principal da vila. Muitos dos edifícios são hoje albergues, pensões ou hotéis. As ruas têm cara lavada e os canteiros de flores animam as lojas de souvenirs, dão mais colorido às varandas. Já Lari é essencialmente histórica — e absolutamente pitoresca.
O centro histórico da pequena povoação desenvolve-se ao longo de uma única rua principal, que vai subindo em espiral até ao castelo — empoleirado no topo da colina, ao centro, qual coroa medieval. A vila, defendida por dois panos de muralha, ergue-se 130 metros acima do nível do mar e, em dias límpidos, avista-se quase toda a região do pátio do castelo. A sul, a histórica Volterra. A norte, a cidade de Pisa (capital do distrito a que pertence a área de Valdera). E a oeste, junto à linha do Mediterrâneo, Livorno, principal cidade portuária da Toscana — onde um imenso sol cor-de-laranja agora se põe, tingindo o céu dos tons pastéis que pintam as fachadas dos prédios, mergulhando as montanhas distantes numa neblina azul.
No interior do castelo, a história dos vigários de Lari vai sendo contada sala após sala, com recurso a modernos dispositivos (desde mesas e painéis interactivos a filmes e projecções animadas). A sala do tribunal, as catacumbas e as celas de encarceramento e de tortura dos prisioneiros são algumas das mais interessantes. Os primeiros documentos relacionados com a existência de um castelo em Lari datam de 1043, quando um pedaço de terra da propriedade foi vendido a troco de uma espada, mas o período áureo da fortificação terá sido a partir do século XV, sob o reinado de Florença, quando Lari foi elevada a vicariato.
Voltamos às ruelas da vila. O fim das aulas transforma a frente da igreja de Santa Maria e São Leonardo num campo de futebol improvisado. Passeiam namorados, volteiam bicicletas e trotinetas. O banco de jardim senta mães e mochilas. Eles gastam o que resta das energias. Nós vamos encher-nos delas, que agora é a vez de a Toscana se pôr à mesa.
A viagem é da responsabilidade da Sete Sóis Sete Luas, uma associação cultural que desde 1993 organiza um festival itinerante por vários países europeus e lusófonos, com forte ligação a Portugal. José Saramago foi presidente honorário desde a primeira edição e o seu Memorial do Convento serviu de inspiração ao nome e ao símbolo do festival. Ponte de Sor é sede de um dos quatro pólos da associação (o primeiro fica em Pontedera, onde tudo surgiu), que anualmente leva espectáculos a oito cidades portuguesas. Agora, a Sete Sóis Sete Luas dá os primeiros passos à frente do turismo institucional da região de Valdera. Um pouco à semelhança dos objectivos do festival, a aposta passa pela descentralização do turismo na Toscana, mostrando zonas menos massificadas, pela tentativa de ir ao “encontro das pessoas, não das praças e dos monumentos”, como se lê na lista de objectivos do festival, e por um foco importante na gastronomia. E tudo isso se juntou neste passeio, com visita a várias empresas de produção local e familiar.