Situado a escassos oito quilómetros de Ketrzyn, o bunker serviu de residência principal do führer entre 1941 e 1944, organizando, a partir da densa floresta — e as florestas ocupam mais de um quarto da superfície do país, cujo total supera os 310.000 km2, três vezes mais do que Portugal — de Gierloz, a invasão da União Soviética.
Nesse mesmo último ano, um grupo de oficiais alemães tentou assassinar o líder do partido nazista, numa conspiração liderada por Claus von Stauffenberg, um coronel que, proveniente de Berlim, chegou ao covil no dia 20 de Julho, aparentemente para um encontro de rotina entre as altas patentes militares.
Nunca, até essa altura, alguém estivera tão próximo de liquidar Adolf Hitler mas a pasta onde von Stauffenberg transportava uma bomba, colocada mesmo ao lado do ditador, foi estranhamente mudada de lugar no momento em que o conspirador se ausentou para atender uma chamada telefónica previamente combinada. A explosão matou e feriu alguns oficiais mas Hitler escapou com apenas ferimentos ligeiros, ordenando logo no dia seguinte, 21 de Julho, a execução do coronel e de outras 5000 pessoas alegadamente envolvidas no conluio para o assassinar, um acontecimento que foi transposto para as salas de cinema com o título de Operação Valquíria (dirigido em 2008 por Bryan Singer), tendo como protagonistas Tom Cruise e Kenneth Branagh.
Em Janeiro do ano seguinte, face à aproximação do Exército Vermelho, os nazis provocaram a explosão do Wolfsschanze (como era designado em alemão) e grande parte dos bunkers (admite-se que o de Hitler ostentava o número 13) foram parcialmente destruídos, nada mais restando, nos dias de hoje, espreitando por entre a vegetação, do que enormes placas de betão — algumas com a espessura de 8,5 metros — e um emaranhado de metal.
É sábado, o transporte público é quase inexistente. Deito um último olhar ao mapa colocado à entrada do covil e caminho até que alguém se detém e me deixa, daí a poucos minutos, em Ketrzyn, fortemente bombardeada pelo Exército Vermelho devido à proximidade do quartel-general de Hitler e com uma parte antiga que nunca chegou a ser totalmente restaurada à imagem de sua original magnificência — e os cemitérios bem tratados, cheios de flores e trepando as suaves colinas, são um testemunho desses anos trágicos.
Herança teutónica
Ketrzyn, com uma população que supera os 300 mil habitantes, é uma cidade pacata, no coração do grande distrito dos lagos da Masúria, uma das razões que contribuem para atrair, anualmente, mais de 200 mil turistas. A um sábado ou a um domingo, exacerba a sua quietude e respira uma melancolia que parece contagiar, convidando o viandante a permanecer, pelo menos durante umas horas, antes de se aventurar por outros locais mais turísticos e mais preenchidos.
Fiel à sua herança, Ketrzyn, em tempos Rastenburg, tem no castelo teutónico uma das maiores atracções, um espaço elegante visto do exterior e sereno dentro das paredes que abrigam actualmente uma biblioteca municipal e o museu Wojciech Ketrzynski (em homenagem a um patriota local), com mostras de documentos e de artefactos científicos da área, bem como exposições de história e arte moderna.