A capela, no entanto, foi construída já no século XV e, quase há 500 anos, em 1519, recebeu a visita do Grande Mestre da Ordem Teutónica, Albrecht von Hochenzollern, que percorreu a pé todo o caminho até chegar a Swieta Lipka, numa manifestação de fé que não antevia tão repentina mudança em pouco mais de um decénio. Na verdade, Albrecht von Hochenzollern tornou-se luterano em 1530 e não perdeu tempo a mandar destruir a capela, a própria estatueta (que foi lançada às águas do lago Wirowe) e, não satisfeito, em ordenar que a famosa tília fosse cortada.
A fé católica simplesmente foi banida durante o reinado prussiano, os padres remetidos ao exílio e, uma vez que o culto dos santos foi proibido como superstição, quem se aventurasse, como peregrino, a colocar o pé em Swieta Lipka teria, inevitavelmente, o mesmo destino ao qual acabou por escapar o criminoso que esculpiu a estátua: a pena de morte. Quase cem anos mais tarde, os católicos recuperaram a sua liberdade religiosa, o lugar foi adquirido pelo secretário do rei Zygmunt III Vasa e a aldeia ficou a cargo dos jesuítas.
De frente para o portão, olho a igreja uma vez mais, com a sua cor rosada, intrigado com a sua história de sobrevivência — a actual foi construída entre finais do século XVII e meados do século XVIII no lugar onde em tempos crescia uma velha tília.
A vida é boa
A estrada sobe ligeiramente, uma serpente de asfalto que se insinua por entre uma vegetação grata para com as últimas chuvas e prestes a ficar órfã das folhas que por agora permanecem com as suas bonitas cores outonais.
Caminho por alguns minutos, aqui e acolá espreita um lago, com as suas casinhas debruçadas sobre as águas tranquilas — Swieta Lipka está situada num vale parcialmente ocupado por dois lagos, o Dejnowa e o Wirowe. Um carro deixa-me num cruzamento e outro, em pouco tempo (são apenas seis quilómetros), em Reszel, uma pequena cidade que foi a primeira, em todo o país, a ser incluída na lista da Cittaslow, um movimento iniciado em Itália (onde as tradições da dolce vita ainda são observadas) que promove a ideia de uma vida boa, a um ritmo mais tranquilo (a rede é compostaa por mais de 150 cidades em 20 países).
Como num conto de fadas — assim é a atmosfera que se sente em Reszel, com a sua parte antiga plena de charme e carácter, com as suas casas pequenas e as suas ruas estreitas, bem como um castelo que, depois de ser alvo de obras de restauro, atrai um grande número de turistas e tão sedutor se revelava aos olhos de Nicolau Copérnico (1473-1543).
Em tempos uma típica fortaleza fronteiriça, o castelo viu hipotecadas as suas funções defensivas em meados do século XV, servindo de residência a, entre outros, os bispos de Warmia. Nos dias de hoje, abriga uma galeria de arte contemporânea e exibe trabalhos de proeminentes artistas polacos e internacionais.
Subo à torre da igreja vizinha e, desde o alto, o castelo e a cidade surgem aos meus olhos ainda mais belos mas, como a tarde avança e à falta de transporte público, sinto necessidade de partir. Passo de novo por Ketrzyn e, daqui, sempre à boleia, sou levado por um jovem cujo destino era outro que não Gizycko.