Fugas - Viagens

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Polónia: Na terra dos mil lagos

- É fim-de-semana, não tenho nada para fazer, diz-me, enquanto vai elogiando a paisagem que passa por nós lentamente.

Gizycko recebe-me agora sob um manto crepuscular. A manhã acorda com chuva mas o sol não tarda a fazer a sua aparição. É domingo. Pelos jardins caminham as mães, empurrando os carrinhos de bebés. As folhas tombam, graciosa e demoradamente, como quem deseja chegar atrasado ao seu destino. Há três dias que faço de Gizycko o meu quartel-general para visitar a região. Antes do fim-de-semana, escutara atentamente Catherine Karolska no posto de turismo.

- Amo a minha Gizycko, tão amável para os turistas que a visitam.

Já no início do século passado, Gizycko era elogiada. “Situada num istmo entre os lagos Mamry e Niegocin, a cidade de Lec (Lötzen) é o centro das atracções turísticas na região da Masúria”, escrevia Mieczyslaw Orlowicz, um notável excursionista polaco, referindo-se aos muitos turistas alemães, a maior parte deles procedentes de Königsberg, que aqui passavam férias, atraídos pela beleza da cidade, com as suas moradias e mansões. Em simultâneo, Gizycko estava bem servida de transportes ferroviários (uma linha, construída em 1868, ligava aquela cidade alemã à fronteira com a Rússia) e funcionava como base para visitar a área envolvente. “A Masúria é a terra dos lagos. Aqui, ao longo de 500 km2, pode encontrar quase mil e os maiores e os mais bonitos estão localizados próximos de Lec — o ponto de partida para excursões nos lagos”, concluía  Mieczyslaw Orlowicz.

Gizycko, com uma população a rondar os 30 mil habitantes, foi em tempos habitada pelos galinda, uma tribo pagã da Prússia que ergueu os seus templos em duas ilhas vizinhas. Durante mais de 50 anos, a Ordem dos Cavaleiros Teutónicos lutou pela conquista destas terras e por introduzir o Cristianismo, provocando, com a sua vitória, o desaparecimento dos galinda, da sua língua e dos seus rituais.

No início Nowa Wies, mais tarde Lec, depois Lötzen, Gizycko viveu períodos tempestuosos ao longo da sua história e até ao final da II Guerra Mundial, quando passou a usar a toponímia Luczany — mas por pouco tempo, uma vez que, logo em Março de 1946, adquiriu a actual designação, em homenagem a Gustav Gizewiusz, um importante activista polaco. 

Independentemente dos nomes e dos tempos turbulentos, Gizycko nunca deixou de fazer sonhar muitos polacos, alguns deles vivendo a centenas de quilómetros de distância — a cidade teve sempre a capacidade para se erguer das cinzas e, logo em 1960, recebia o estatuto de capital aquática de Verão da Polónia, organizando, anos mais tarde, campeonatos mundiais de vela de cadetes.
As mudanças políticas e sociais na última década do século passado serviram como estímulo para a cidade se desenvolver ainda mais, sempre em íntima relação com a água mas beneficiando — cada vez mais — da beleza natural da região.

Sem grande surpresa, pelo menos para os polacos que a conhecem, a região dos grandes lagos masurianos, cuja capital é Gizycko, foi uma das finalistas, em 2011, do prestigiado concurso Novas Sete Maravilhas da Natureza e todos os anos atrai um número crescente de turistas, entusiasmados com a quietude dos seus lagos, dos seus canais e das suas florestas (a floresta municipal estende-se por uma área de quase 70 hectares e acolhe árvores monumentais, incluindo um carvalho velhinho de mais de 600 anos).

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