Fugas - Viagens

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Polónia: Na terra dos mil lagos

Atravessada pelo rio Guver e localizada a curta distância dos lagos Poj e Siercze e de florestas onde o silêncio não raras vezes apenas é cortado pelo silvo de um pássaro ou pelo quebrar de um galho, Ketrzyn tem uma história que remonta ao século XIV, quando foi fundada pela Ordem dos Cavaleiros Teutónicos na sequência da tomada da pequena colónia prussiana então conhecida como Rast. 

Nesse tempo, o lugar onde mais tarde viria a ser construído um castelo era ocupado por uma torre de vigia em madeira, em redor da qual foi crescendo a povoação que conheceu uma existência tumultuosa no final da primeira metade do século XV, sublevando-se contra a opressão da Ordem Teutónica e unindo-se a outras cidades para formarem a Confederação Prussiana. O embrião da revolta foi germinando e, dez anos mais tarde, os rebeldes apoderaram-se do castelo e exaltaram o rei da Polónia, Wladyslaw Jagiellonczyk, nem sequer imaginando que, em menos de um ano,  Ketrzyn haveria de ser devolvida à Ordem, após um acordo entre o Grande Mestre desta e o súbdito, como resultado do segundo Acordo de Paz de Torun.

Durante os séculos XVI e XVII — entre a secularização da Ordem, em 1525, e o eclodir da guerra polaco-sueca, em 1626 —, a cidade conheceu um período de grande prosperidade mas o conflito, seguido de pestes e incêndios, transformou Ketrzyn num mar de ruínas, tendo de esperar até aos finais do século XIX para conhecer uma segunda época de ouro, com a construção de estradas e de ligações ferroviárias que contribuíram decisamente para o desenvolvimento do comércio e indústria.

A cortina de nuvens cinzenta abre-se e deixa espreitar o sol, colorindo o agradável parque junto ao castelo. Mesmo em frente da estrutura, reparo numa placa comemorativa, recordando o encontro dos dois generais polacos J. H. Dabrowski and J. Zajaczek, comandantes das tropas polacas que combateram sob as ordens de Napoleão Bonaparte no início do século XIX e, mais para lá, depois de passar a casa da cultura, com as suas esculturas de múltiplas cores e os seus bancos onde se sentam jovens casais, deixo-me conduzir até à igreja gótica, cujo patrono é São Jorge, de onde saem a esta hora mulheres com os seus lenços coloridos cobrindo-lhe a cabeça, algumas sorridentes e não menos curiosas perante a presença de um português que lhes faz evocar um único nome:

- Fátima.
Fico por uns minutos na paragem de autocarro, tomo um café no bar da estação ferroviária e percebo, ao fim de algum tempo, que nenhum destes transportes me poderá levar, neste sábado de Outono em que o sol promete aquecer-me, até Swieta Lipka.

Lembro-me, por segundos, do rosto angelical de Anna Gileta.

- Sabe o que significa Swieta?

Não sabia.

- Sagrada.

O milagre da estatueta

À boleia, com um agricultor, não tardo em ver recortado, sobre uma paisagem verde, o santuário mariano que tantos polacos atrai à pequena aldeia onde corre um vento que se entranha e faz encolher a simpática vendedora de mel que espera, desde as primeiras horas da manhã, os turistas e os peregrinos. Ao lado do complexo religioso, o fumo sobe da chaminé de uma casa, um prenúncio do Inverno que se aproxima com a promessa de dias de muito frio. Flanqueio o bonito portão de ferro forjado, admiro as quatro capelas em cada um dos cantos e entro na igreja, por agora entregue ao silêncio mas onde, nos meses de Verão, têm lugar recitais de música todas as sextas-feiras.

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