Fugas - Viagens

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Polónia: Na terra dos mil lagos

Regresso ao exterior e debruço-me sobre a história do mosteiro erguido em honra da Sagrada Virgem Maria.Erguido no século XVII, é um dos mais admiráveis exemplos do barroco tardio da arquitectura da Polónia e encerra uma lenda que, como quase sempre, começa com era uma vez.

Era uma vez um criminioso que, detido nas masmorras do castelo de Ketrzyn, aguardava a hora em que seria concretizada a sua sentença de morte. Todos os dias ele rezava à Virgem Maria para o salvar e, uma noite, na véspera da sua planeada execução, ela surgiu diante dos seus olhos, presenteando-o com madeira e um formão e pedindo-lhe, ao mesmo tempo, para esculpir a sua imagem e apresentá-la aos juízes no dia seguinte.

O condenado cumpriu o desejo de Maria e, a despeito de nunca ter executado qualquer trabalho em madeira, produziu uma estatueta de uma beleza assombrosa. Os juízes, acreditando que aquele era um sinal de Deus, libertaram o criminoso e este, grato por gozar de novo a sua vida em liberdade, pousou a peça em madeira junto a uma tília na estrada que liga Ketrzyn a Reszel, mais ou menos à mesma distância tanto de uma como da outra.  

Rapidamente, o ícone ganhou fama de milagroso e a população local não tardou a carregá-lo para lhe dar um lugar abrigado dos humores da natureza na igreja de São Jorge, em Ketrzyn. Mas a estatueta despareceu, não uma mas duas vezes, regressando à companhia da tília, um sinal claro, para a população, de que competia à Virgem Maria escolher a localização da peça trabalhada pelo criminoso.

A decisão não se fez esperar: teria de ser levantada uma capela naquele lugar.
De repente, a atmosfera inunda-se de música, apuro o ouvido e percebo que vem do interior da igreja. Volto a entrar. Um grupo de turistas, de cuja presença não me dera conta, está sentado nos bancos de madeira e de olhos cravados no órgão.

O momento reveste-se de grande misticismo.

Sento-me, também, observando os anjos que, com movimentos delicados, vão dançando ao som dos acordes musicais. O órgão, de estilo barroco e construído em 1721 por Johann Mosengel, é o elemento decorativo da igreja que mais olhares atrai, com as suas cores, as estátuas de anjos tocando bandolim, os querubins e as suas cornetas, um trabalho artístico que retira importância a um tecto e a um altar soberbos, a todo um interior que produz espanto em todos quantos o visitam, seja para orar ou simplesmente para admirar as obras de nomes importantes como M. J. Meyer ou K. Peucker ou mesmo (um quadro no altar com a Virgem Maria trajando um vestido prateado) do pintor B. Pens.

Quando o silêncio se volta a instalar, regresso ao exterior, caminhando por aqui e por ali, com a história da igreja no horizonte. De acordo com livros antigos, Swieta Lipka já acolhia peregrinos no século XIII.

Neste preciso instante, ainda com a música do órgão a ressoar nos meus ouvidos, volto a lembrar-me de Anna Gileta, do diálogo travado na esplanada de Gizycko.

- E sabe o que significa Lipka?

Desconhecia.

- Lipa, em polaco, quer dizer tília. Lipka é uma tília pequena.

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