Fugas - Viagens

  • Rodrigo Santos
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Laos, a floresta canta mais alto do que a modernidade

O motorista avisa, num inglês mais ou menos perceptível: “Hold on! It’s going to be a bumpy ride!” (Segurem-se! Vai ser uma viagem atribulada!). Uns concentram-se em não enjoar, outros divertem-se com os saltos e encontrões. Chegados à margem de um rio, por sinal relativamente cheio, o pensamento mais natural seria questionar onde estaria atracado o barco. Não. A pick up serve. De janelas fechadas para evitar alguma onda provocada pela deslocação das carrinhas, a travessia foi feita, de forma tranquila e algo divertida, pelos motoristas já rotinados nestes percursos. Finalmente, uma paragem. E o primeiro choque de realidade. Uma aldeia, que parecia deserta, começa a encher-se de habitantes locais, entretidos nos seus afazeres, que interromperam para vir espreitar os forasteiros que chegavam. As crianças, de pés descalços e semidespidas, brincavam com uma ninhada de cachorros recém-nascidos, relativamente indiferentes aos turistas. As casas eram palhotas e as casas-de-banho – como as conhecemos no mundo dito ocidental - eram uma utilidade desconhecida. As ruas, sem qualquer empedrado, enchiam-se de lama, que se colava aos sapatos dos turistas e aos pés descalços das crianças. Após uma curta pausa, o grupo segue viagem: a pé. Era o verdadeiro início da aventura.

Mais uma volta, mais um rio. Por onde atravessar? Pela água. Calçados ou descalços, como quisessem – opções igualmente desconfortáveis para os amantes da civilização. O ritmo é acelerado, não há tempo a perder. Cada guia segue com um grupo de oito pessoas e apenas procura certificar-se de que ninguém fica pelo caminho. O espírito parece ser “cada um por si”…

“Fazer como os macacos”

O primeiro trilho desenrola-se entre mata densa e áreas de cultivo, entre terra seca e terreno fértil. Na paisagem, surgem, de vez em quando, alguns animais mais ou menos domesticados, que vinham, curiosos, espreitar quem passava. Segunda paragem, segunda aldeia. Desta vez, apenas um ponto de passagem utilizado pelos guias para dar as próximas indicações. Distribuem um equipamento que, à primeira vista, se assemelha a um cinto com cordas. Explicam, rapidamente, que é necessário usá-lo sempre, por razões de segurança, excepto dentro das cabanas. “Wear it like a diaper!” (Vistam-no como se fosse uma fralda!), aconselham. Entre cordas, cintos e arneses, começa a sentir-se o espírito de grupo e de entreajuda. As nacionalidades confundem-se, as diferenças culturais esbatem-se, a curiosidade pelo outro aguça-se…

O grupo põe-se em marcha, já com os novos apetrechos. Há um misto de sentimentos no ar: expectativa, curiosidade, receio… O site da Gibbons Experience assegura que o percurso classic de três dias/duas noites “é o mais fácil”. Será?

Este trilho é íngreme e irregular – difícil de cumprir sem alguns tropeções. Os ramos atravessam-se no caminho, dificultam a visão e deixam marcas nos braços e pernas destapados devido às temperaturas altas e sufocantes. É sempre a subir. O cheiro fresco da vegetação dissipa-se no ar, que se torna, progressivamente, mais denso e pesado. Custa respirar. A altitude provoca ligeiras tonturas: como se o corpo seguisse à frente e a cabeça ficasse para trás. Os mais atléticos e destemidos conseguem acompanhar o ritmo; outros, mais ofegantes, vão assumindo o fim da fila. Algumas árvores servem de encosto para recuperar o fôlego. Por escassos segundos.

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