De vez em quando, os guias contam cabeças. Ouvem-se risinhos nervosos, alguns palavrões mais ou menos contidos, há quem reclame “porque é que eu me meti nisto?!”… Finalmente, uma paragem para descansar e “almoçar”. Os guias procuram manter o moral do grupo: olham em volta para se certificarem de que todos estão bem, ensaiam piadas e brincadeiras. Nem todos falam inglês, mas todos se esforçam por comunicar. Distribuem sandes embrulhadas em folhas de bananeira. Não há papel para não fazer lixo. Chamam a atenção dos fumadores: nada fica para trás! A consciência ambiental é transmitida, desde o primeiro momento, e relembrada – com insistência, se necessário – aos mais distraídos.
A pausa não durou mais do que 20 minutos. O grupo aproxima-se das primeiras ziplines – uma forma de transporte, também conhecida como slide, que consiste em deslizar, num cabo de aço, esticado a muitos metros de altura, com o auxílio de roldanas e preso por um suporte fixado com arneses. Na Gibbons Experience, o comprimento dos cabos varia entre os 50 e os 600 metros. Nos mais longos, é como se nos lançássemos no vazio, sem ver o destino final.
Ao chegar à primeira zipline, o grupo entreolha-se como quem tenta empurrar para o próximo a iniciativa de ir em primeiro lugar. Antes, os guias verificam se todos têm o equipamento bem apertado e recordam instruções de segurança. Jay assume a liderança: “Tenham cuidado com a velocidade. Se não conseguirem parar do outro lado, correm o risco de voltar para trás, com o impulso, e ficar no meio do cabo, suspensos sobre o vazio. Se isso acontecer, façam como os macacos!” E exemplifica, com gestos, como quem desliza, numa corda, com o auxílio das mãos. A pouco e pouco, chega a vez de todos. Alguém pergunta se é possível desistir, regressar à aldeia. “Não”, responde Jay, entre risos, “a menos que queiram fazer todo o caminho a pé – e vai escurecer – e depois pedir boleia para regressar a Huay Xay”. E a ideia fica, automaticamente, posta de parte.
A altura da montanha intimida, mas ainda não é uma das mais altas. Há quem arrisque espreitar o vazio, desafiar as vertigens. “Já vi muitos homens de barba rija ter medo de alturas”, refere Jay entre o sério e o divertido. O clique do arnês a fechar soa a um misto de segurança e inquietação. Não há volta a dar, é hora de saltar. Ouvem-se gritos e exclamações – uns de êxtase, outros quase de terror. A adrenalina está ao rubro. A meio da zipline, já se vê o fim: o ponto de chegada é uma espécie de casa na árvore de dimensões reduzidas. Tem um suporte – estreito – para pousar os pés. Outro guia ajuda cada um dos aventureiros a chegar, sem tropeções de maior. Com os pés em “terra firme”, parece que, afinal, é mais fácil do que parecia. Mas nem há tempo para respirar fundo. O espaço é tão apertado que é preciso permanecer encostado à árvore para dar a volta e chegar a… outra zipline.
O patamar para colocar os pés é tão curto que parece que falta chão. Na verdade, é uma falsa sensação de insegurança porque os arneses continuam presos à árvore – à prova de qualquer deslize. Quem arrisca olhar para baixo, descobre uma imensidão de vazio. Não se vê o chão - talvez pela altura elevada, talvez pela ilusão criada pela vegetação. Agora, sim, as pernas tremem. A adrenalina inebria mais do que os cheiros exóticos, que entram pelas narinas adentro. Dois rapazes dão sinal de hesitação. Um deles recusa-se a saltar: tem vertigens. Jay encoraja-os: “Têm de ir! Não há forma de voltar para trás!”. E vão – todos, sem excepção.