Fugas - Viagens

  • Rodrigo Santos
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Laos, a floresta canta mais alto do que a modernidade

O grupo que seguia no autocarro está meio perdido, sem saber o que fazer. Uma das australianas comenta que, na viagem entre Luang Prabang e Huay Xay, feita uma semana antes, tinha assistido a outro acidente. Várias pessoas apanham tuk tuks para seguir viagem; o grupo resolve fazer o mesmo.

Ainda é de madrugada quando chegam a Luang Prabang – mesmo com o acidente, o autocarro estava quatro horas adiantado. A cidade desperta em tons de laranja, a adivinhar mais um dia quente. Já há vida nas ruas: os comerciantes montam a feira e os monges, nas suas vestes açafrão, alinham-se, com pequenas taças na mão, para receber as oferendas dos turistas. Diz a tradição que apenas poderão comer, durante todo o dia, aquilo que lhes for oferecido – tarefa praticamente impossível tendo em conta que as taças se enchem de uma amálgama de arroz com moedas…

Luang Prabang fica no centro de uma região montanhosa, ladeada por dois rios: o Mekong e o Nam Khan. No século XIX, quando o país esteve dividido em três reinos, chegou a ser a capital até perder o estatuto para Vienciana, em 1946. A arquitectura colonial convive com a riqueza dos templos: são grandes, imponentes, dourados, mas fundem-se de tal forma com o resto da cidade que parecem surgir quando menos se espera. Só em Luang Prabang, existem 34 wats – a palavra budista para “templo” – considerados Património Mundial da Humanidade pela UESCO.

Onde o turismo não chega

O silêncio e o ruído coexistem. No alto de um monte, um templo adormecido convida ao retiro e à meditação. Na subida, uma local vende passarinhos em gaiolas para os turistas poderem soltar. Lá de cima, é possível avistar, de um lado, as margens de um dos rios, que corre lânguido; do outro, o frenesim da feira, das crianças que correm para a escola, do trânsito motorizado, que se mistura com carroças carregadas de fruta e verduras.

Luang Prabang é uma cidade grande, que arrisca perder espontaneidade por causa da invasão do turismo. Por todo o lado, existem hotéis, pensões e guest houses – um negócio ao qual muitos habitantes locais aderiram para fazer face ao aumento do custo de vida. Há restaurantes para todos os gostos e cafés ao melhor estilo europeu. As lojas que vendem excursões e souvenirs multiplicam-se. É difícil fugir das propostas para ir tirar fotografias com tigres e elefantes que os guias juram, a pés juntos, serem bem tratados, mas as imagens dos prospectos fazem desconfiar de métodos pouco ortodoxos. Também é possível visitar as cascatas Kuang Si – a cerca de meia hora de distância de tuk tuk, com água cristalina e paisagem verdejante – ou descer um dos rios de caiaque até à gruta Pak Ou – uma espécie de santuário onde estão guardadas cerca de 4000 esculturas de Buda. Pelo caminho – rio abaixo – as margens convidam a atracar o caiaque para fazer uma pausa, dar um mergulho ou apanhar sol. No regresso de uma excursão, o guia – mais à vontade, após acompanhar o grupo durante todo o dia – resolve meter conversa com os dois portugueses. Após a típica pergunta “Where are you from?” (De onde são?), as palavras começam a soltar-se com facilidade e, de ambas as partes, a curiosidade desemboca nas diferenças culturais:

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