Fugas - Viagens

  • Rodrigo Santos
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Laos, a floresta canta mais alto do que a modernidade

O grupo de holandeses – um casal, um rapaz e uma rapariga, que viajam em separado – entretém-se a explicar aos restantes que “Netherlands” (Países Baixos) e “Holland” (Holanda) não são a mesma coisa.

Ainda não são dez da noite e o grupo começa a dar sinais de cansaço. É preciso montar as tendas, prendendo-as nos suportes possíveis – sejam as tábuas da cabana ou ramos da árvore. Lá dentro, colocam-se os sacos-cama e os edredons. O escuro da floresta é breu - sem comparação possível com qualquer campo, mata ou região do interior na Europa. As estrelas são tantas, e tão visíveis, que fazem lembrar um padrão com pintas intermináveis. Tal como nos filmes de fantasia, ouve-se todo o tipo de ruídos de animais: a maioria difícil de adivinhar. De vez em quando, surge um grito abafado – quase sempre no feminino – por causa dos insectos tamanho XXL que insistem em visitar a cabana, atraídos pelas luzes das lanternas ou pelo cheiro da comida. Alguém recorda um dos avisos de Jay: “Não deixem restos de comida por aí. O lixo tem de ficar bem fechado! Senão corremos o risco de atrair animais.”

Aos poucos, o corpo repousa e a mente consegue abstrair-se do ruído da floresta. Um grupo de estranhos está ali, no meio da selva, longe de tudo o que se entende por civilização – sem rede nos telemóveis nem a mínima noção do caminho de regresso. E a sensação de paz é enorme.

O “canto” dos gibões

O dia está a raiar e ainda não há movimento na cabana. Um ruído, que se ouvia, ao fundo, parece ficar mais alto, mais próximo. É ritmado, quase melodioso. Talvez a embriaguez do sono confunda as ideias, talvez a falta de noção de tempo e de espaço, ali na floresta, permita que a realidade se confunda com o imaginário. Mas os viajantes poderiam jurar que ouvem… cantar. Não é uma voz humana. Não há voz, sequer. Não são trinados nem assobios como os das aves… É algo indescritivelmente bonito. Os primeiros olhos a abrir, na cabana, procuram descortinar a origem daquele som, no meio de um nevoeiro denso. De súbito, alguém sussurra: “São os gibões! Estão perto da nossa árvore! Estão a cantar.” Todas as cabeças espreitam por detrás das tendas, alguns ainda embrulhados nos sacos-cama para se protegerem da geada matinal. O grupo troca olhares cúmplices e, até, emocionados. É uma experiência única na vida. E nem todos os que participam na Gibbons Experience têm a sorte de vivê-la.

O dia amanhece, pouco depois, e após um pequeno-almoço composto por fruta, bagas, arroz e legumes, é altura de voltar a encarar as ziplines. O que antes era novidade passa a ser levado com naturalidade. Mais confiantes, os viajantes vão saltitando de linha em linha e visitando as restantes cabanas. Na floresta, o tempo não passa. Ou passa de maneira diferente. Vive-se o dia ao ritmo do sol e da lua, em comunhão com a natureza.

Chega o momento do regresso. Agora é sempre a descer – uma nova dificuldade. Alguns tropeçam, outros caem. A entreajuda é constante. Um grupo que, dois dias antes, era de desconhecidos, tinha criado uma união própria de quem desafia os próprios limites e se supera, em conjunto.

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