Fugas - Viagens

  • Ramblas
    Ramblas Albert Gea / Reuters
  • Memorial nas Ramblas
    Memorial nas Ramblas Quique Garcia / EPA
  • Memorial nas Ramblas
    Memorial nas Ramblas Albert Gea / Reuters
  • Gustau Nacarino / Reuters
  • Vista sobre as Ramblas
    Vista sobre as Ramblas Alberto Estevez / EPA
  • La Pedrera
    La Pedrera Rui Gaudêncio
  • La Pedreta
    La Pedreta DR
  • Bairro de Gràcia
    Bairro de Gràcia Rui Gaudêncio
  • Born
    Born Rui Gaudêncio
  • Sagrada Família
    Sagrada Família Enric Vives Rubio
  • DR
  • Mercado de Santa Catarina
    Mercado de Santa Catarina Roland Halbe
  • Albert Gea / Reuters

Continuação: página 2 de 8

Barcelona não se rende - e até os barceloneses voltaram à Rambla

Na sexta-feira, as barreiras já tinham “caído” e no sábado o comércio já estava praticamente todo aberto. Recomeçou a voltar a vida (quase) normal à Rambla, desta feita não só no prazer de passear pelo boulevard que é a espinha dorsal do turismo de Barcelona mas também num misto de homenagem e de voyeurismo macabro (a quantidade de selfies que vemos ser tiradas parece ser paradigma de algo que o roça, pelo menos). E os barceloneses, que adoram odiar as Ramblas, regressaram em força. Afinal, pode tirar-se um barcelonês da Rambla mas não se pode tirar a Rambla de um barcelonês.

“A vida segue”

Dos barceloneses que vieram, uns encontraram o que esperavam. E, então, aqui está Isabel com os seus cravos, e Mar Gálvan com a sua filha e as suas velas depositadas logo no começo da Rambla, por onde entrou a carrinha branca disposta a percorrer os 1,2 quilómetros de extensão desta espécie de colmeia humana. Vêm pela primeira vez desde que tudo se passou — e é segunda-feira. “Esperámos, primeiro pelo cordão policial, depois pelas manifestações, havia muita gente”, explica Mar, “e hoje entrei de férias”. Viram tudo pela televisão, entre “a raiva e um pouco de medo”. “Somos fortes, há que seguir adiante. Há que sair à rua apesar do que aconteceu. Dar o exemplo, até a quem nos visita, mostrar que somos gente que acolhe, que vive, que sente a dor.” Crê que o turismo vai continuar, quer que o turismo continue.

Outros, como Pep Sanchez, que esteve na Rambla na sexta-feira e no domingo, “sem parar demasiado”, não encontraram o que esperavam. “Na sexta-feira creio que procurava emocionar-me. Mas não me emocionei nada”, confessa. E no domingo já não gostou do que viu. “Entendo que por estes dias seja um grande palco, porque todos os meios de comunicação estão a informar sobre o que se passa. Porém, no domingo já havia no ar algo como ‘parque temático da dor’ de que não gostei nada. Claro que entendo que muita gente se comova com tantas velas, corações e outros que tais, mas o ambiente... tão Black Mirror... tanta gente a tirar fotografias com telemóveis...”. Pep é contra a Barcelona que tira aos habitantes e se oferece aos turistas e teme que este seja mais um motivo para “turistificar” (um verbo muito em voga por aqui) a cidade.

António Martín está junto à Fonte de Canaletes (“território” do F.C. Barcelona: aqui se celebram as vitórias do clube) a observar uma das muitas equipas de televisão a trabalhar, sem pensar no mediatismo mórbido de que fala Pep. “Vivo perto”, aponta vagamente para o lado do Raval, “e estava por aqui”. “Não deu tempo para pensar no que se estava a passar”, recorda, “a polícia dizia para irmos para baixo, depois para cima. Tentas defender-te, não te preocupas com mais nada.”

Quase diante de Canaletes está o restaurante Aromas de Istambul, que chegou a ser dado nas primeiras horas como local de entrincheiramento de um dos supostos terroristas. Souhail Rhnimi e Souhail Hussein são dois dos empregados e estão à porta a tentar captar clientes. “A afluência baixou 80%”, sublinha Rhnimi, “mas falei com outros aqui à volta e é o mesmo”. “Há um susto ainda”, nota. “Há gente, mas são catalães, os turistas andam com muito medo.” Sobre o dia 17 recordam “um grande ruído” e de ver a carrinha a passar — “parecia que a 100 à hora”. “Pensámos que era alguém a fugir da polícia ou que tivesse ficado sem travões. Mas depois vimos que ia aos ziguezagues. Foi logo ao primeiro quiosque e depois comia tudo.” Entraram-lhes três adolescentes franceses “desnorteados”, mas um acabaria por sair à procura de outros amigos. Fecharam as portas, ligaram à polícia a dizer que estavam bem e foi-lhes dito que ficassem no interior. “Quando saímos foi com as mãos no ar, a polícia estava de armas apontadas.” “Isto não vai acabar connosco”, assevera Rhnimi, o mais falador dos dois, “temos de seguir o melhor possível”. Ambos marroquinos e muçulmanos, imigrados há quase dez anos, notam que “andam por aí dois tipos de gente: os que dizem ‘olhem os que os muçulmanos andam a fazer’; e os que dizem ‘isto é terrorismo’”. “Somos os imigrantes mais afectados”, assume Rhnimi, “os turistas sabemos que vêm e vão”. “E vão continuar a vir, tenho acordado sempre com essa convicção.”

--%>