E depois temos o Raval, onde parece caber toda a Barcelona e a sua sofreguidão por criar pontos turísticos. Aqui se implantou o Museu de Arte Contemporânea (MACBA), com uma esplanada imensa a servir de pista de skate, aqui se instalou o famoso Gato de Botero, na Rambla do Raval, fama de red light district. A fama é, aliás, algo que precede o Raval, bairro de imigrantes depois de ter sido de indústrias e operários. Chegou a ser conhecido como “bairro chinês” mas agora são mais os paquistaneses que por aqui vivem e trabalham. Quem procura a Barcelona multicultural vê-a aqui em concentrado: uma rua cheia de locutórios, mercearias e lojas de electrónica propriedade de imigrantes, tem nos interstícios alguns dos bares mais interessantes da cidade e cervejas a um euro acompanhadas por música alternativa; os brunches de alguns dos seus restaurantes são dos mais concorridos da cidade. A roupa segue a secar nas janelas entre a boémia do ravalear, onde a prostituiçãoo prossegue mais escondida e a droga volta a revelar-se nos chamados “narco pisos”.
Esta é Barcelona central. A Barcelona hiperturística. A Barcelona onde não ter medo passou a ser, mais do que uma necessidade, uma obrigação, mais que não seja por orgulho. De barceloneses e turistas.
A não perder
Sagrada Família
Foi apontada como outro dos possíveis alvos dos terroristas de 17 de Agosto, esta obra inacabada de Antoní Gaudí. Claro que continua em obras, mas as filas para a visitar não deixam de ser quilométricas. Há quem suba às torres para ver Barcelona aos pés; há quem se concentre na praça diante dela (não se espere nada grandioso) a fotografá-la durante horas — e a evitar os andaimes e tapumes. É um dos símbolos da cidade e a síntese da carreira do seu arquitecto: foi iniciada em 1882, quando ele tinha 30 anos — morreu em 1926 sem terminar a sua visão para a igreja a que se dedicou quase exclusivamente nos últimos dez anos de vida.
La Pedrera e Casa Batló
Continuamos a perseguir Gaudí e as suas formas orgânicas feitas em pedra. Estes dois edifícios, que foram de habitação até serem declarados monumentos (e património da UNESCO, a primeira) distam poucos metros no Paseig de Gracià. Ambos foram construídos na primeira década do século XX, para habitação de famílias ricas: estas viviam no andar nobre, deixando os de cima para aluguer e o rés-do-chão para comércio. E ambos reflectem a faceta mais orgânica de Gaudí, que buscou aplicar na aarquitectura as formas da natureza. Em termos funcionais, eram avant-garde; em termos estéticos, revolucionários — e belos, como hoje, com as suas formas arredondadas, quase como ondas. O primeiro é reconhecido pelas chaminés e torres de ventilação, peças quase escultóricas, a um tempo sinuosas e rectas, pintadas em cores ocre ou revestidas em pedaços de cerâmica; o segundo pelas varandas que lembram caveiras contra uma fachada de mil cores pintadas por vidros e pequenas peças de cerâmica.
Parc Güell
Não queremos insistir tanto em Gaudí, mas não podemos escapar-lhe em Barcelona. O Parc Güell foi encomendado por Eusebi Güell a Gaudí (que já lhe havia construído o Palácio Güell, perto da Rambla) como um projecto imobiliário, numa zona a norte de Gràcia. Seria um retiro exclusivo no meio de um grande jardim. O insucesso das primeiras casas doou à cidade um parque que é como um jardim das maravilhas. Não faltam, aliás, elementos alusivos a vários contos infantis, longas escadarias, bancos serpenteantes com vista para a cidade e, claro, a famosa salamandra que se tornou num dos símbolos da cidade.