Fugas - Viagens

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    Ramblas Albert Gea / Reuters
  • Memorial nas Ramblas
    Memorial nas Ramblas Quique Garcia / EPA
  • Memorial nas Ramblas
    Memorial nas Ramblas Albert Gea / Reuters
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    Vista sobre as Ramblas Alberto Estevez / EPA
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Barcelona não se rende - e até os barceloneses voltaram à Rambla

Por Andreia Marques Pereira

Por ano passam cerca de 78 milhões na Rambla de Barcelona. No dia 17, dezenas de pessoas foram arrastadas por uma carrinha, 13 morreram. Mas Barcelona não baixou os braços. Até os barceloneses esqueceram as queixas contra o turismo. “Barcelona hugs you” – “you”, os turistas, que nunca a deixaram.

Podíamos começar o texto por aquela mãe e aquela filha adolescente que acabam de acender duas velas junto da “entrada” norte da Rambla (ou Ramblas: La Rambla são várias ramblas encadeadas desde a Praça da Catalunha, a norte, até ao monumento a Colón, Cristóvão Colombo, já junto ao mar), mesmo diante do icónico Café Zurich. É aqui que está o primeiro memorial, enorme, velas, flores, peluches, cartazes, simples folhas de papel, palavras de luto, de esperança, “La comunidad musulmana de Cataluña condena el acto terrorista”, “No tengo miedo”. Uma multidão rodeia-o, há silêncio, alguns olhos marejados e muitos telemóveis ao alto para fotografias.

Podíamos então começar por Mar Gálvan, mas ficará para mais tarde. Vamos descendo as ramblas entre a multidão que novamente as tomou de assalto, entre memoriais mais pequenos que se sucedem, desta feita nas bordas do boulevard, muitas vezes tendo árvores como altares. Num deles, uma mulher, meia idade, imóvel, com um molho de cravos na mão, vermelhos e amarelos. Deposita um, segue numa espécie de peregrinação. “Os cravos são uma flor muito catalã. As cores são as de Espanha e da Catalunha. Mas não penso só nos espanhóis e nos catalães, penso também nas outras pessoas que nos visitam e que enquanto cá estão são dos nossos”, explica Isabel Massagué. Estava fora de Barcelona quando tudo aconteceu. “Senti-me muito triste, com muitas perguntas. Sobretudo ‘porquê?’”, desabafa. Por isso, mesmo tendo chegado na noite anterior, mesmo não vindo habitualmente às Ramblas (“Antes vinha muito, depois chegaram os turistas. E, entretanto, os meus pais, com quem eu vinha passear, já cá não estão. Então, não tenho muitos motivos para vir...”) sentiu “uma obrigação de vir”, de expressar o que sente. “E dá-me paz, não sei...”. Como sou portuguesa, despede-se dando-me dois cravos vermelhos. “Sei o que significam para os portugueses e é para que homenageies as duas portuguesas que morreram aqui.”

Barcelona no té por.” Barcelona não tem medo, lia-se, pelo menos no início da semana, na página inicial do ayuntamiento de Barcelona. Ao lado, o laço negro de luto, por baixo, uma foto da concentração do dia 18 na Praça da Catalunha, menos de 24 horas após o atentado que matou 13 pessoas (embora o número possa ter subido, entretanto) mesmo ali ao lado. Cem mil pessoas ter-se-ão juntado no minuto de silêncio que depois se transformou em 20 minutos de gritos “No tinc por”, não tenho medo, que desceram a Rambla — hoje, dia 26, repetir-se-á esse grito, numa grande manifestação de repúdio aos atentados e à violência, a favor da paz, do amor e da solidariedade, que irá da Gràcia à Praça da Catalunha. E, entretanto, a Rambla é isso mesmo, a expressão de um misto de sentimentos por gente de todo o mundo, onde se repete à exaustão em cartazes “No tinc por”.

A avenida mais emblemática de Barcelona voltou a encher-se de gente de todo o mundo depois do seu esvaziamento no final da tarde de 17 de Agosto e da fantasmagoria da madrugada de sexta-feira, quando grupos de turistas iam sendo escoltados por mossos d’esquadra armados até aos seus hotéis pelos passeios laterais. Uma cena quase surreal, vivida tranquilamente, com agradecimentos à polícia, mas também com um desprendimento quase blasé alimentado por conversas banais, despedidas efusivas de conhecimentos fugazes forjados nas longas horas de espera fora do perímetro de segurança.

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