Fugas - Viagens

  • Ramblas
    Ramblas Albert Gea / Reuters
  • Memorial nas Ramblas
    Memorial nas Ramblas Quique Garcia / EPA
  • Memorial nas Ramblas
    Memorial nas Ramblas Albert Gea / Reuters
  • Gustau Nacarino / Reuters
  • Vista sobre as Ramblas
    Vista sobre as Ramblas Alberto Estevez / EPA
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    La Pedrera Rui Gaudêncio
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    La Pedreta DR
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    Bairro de Gràcia Rui Gaudêncio
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    Mercado de Santa Catarina Roland Halbe
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Barcelona não se rende - e até os barceloneses voltaram à Rambla

Na “rambla das flores”, nome informal do troço onde se concentram os vendedores de flores, muitos quiosques estão fechados, alguns por férias, outros sem explicação. Os que estão abertos não param: saem muitas rosas, três euros cada uma. Estamos na zona do La Virreina Centre de L’Imatge, um dos edifícios mais destacados da Rambla, belo exemplar barroco construído por um antigo vice-rei do Peru, que agora é um museu. A exposição é de Paula Rego, Lèxic familiar, a entrada gratuita; um excerto de Clarice Lispector, em catalão, acompanha a publicidade que é feita ao longo da Rambla.

“Volveremos a cruzar las Ramblas”

E o célebre mercado modernista La Boquería já se adivinha. Numa árvore, um papel “La Boquería está de luto”, a foto de uma das vítimas é acompanhada de mensagem “Te acordamos con esa sonrisa angelical, Silvita”. Mais à frente é a foto de Luca, o italiano, que surge num dos quiosques de flores vazios. “Nada de fotos”, diz um homem em italiano, para a mulher e dois filhos. E já estamos no mosaico de Miró, na Pla de L’Os, engolido pelo que vimos em todos os memoriais, destacando-se uma coroa com a forma do emblema do F.C. Barcelona. “Viktoria Barcelona”, lê-se numa das mensagens neste que foi o local onde a carrinha branca se imobilizou, a poucos metros de outro dos símbolos da Rambla, o Gran Teatre del Liceu, uma das mais importantes casas de ópera mundiais (numa perpendicular próxima “esconde-se” o Palácio Güell, obra de Gaudí).

Foram os expositores do quiosque mesmo ao lado que “rebentaram o motor”, conta um dos funcionários. Não estava cá nesse dia. “Quem está a trabalhar agora não estava na altura. Trabalhamos por turnos.” Sabe que um companheiro se salvou por pouco, “nem ouviu a carrinha”, mas entrou na parte fechada segundos antes de esta passar a arrastar os suportes de metal carregados de gravuras, postais, capas de telemóveis, ímanes.

Poucas das pessoas que compõem a multidão aglutinada em torno do memorial que esconde precisamente um dos quatro presentes que Miró queria dar aos visitantes que chegam à cidade por terra, ar e mar — o mosaico era para quem desembarcava no porto — repararão, por estes dias, que estão junto de um dos mais interessantes edifícios da avenida. Na esquina com a Pla de La Boquería, à altura do primeiro andar, um dragão chinês escapa-se da fachada com um leque, por baixo um guarda-chuva a revelar a primeira vocação da casa (venda de guarda-chuvas) que agora é uma filial de um banco — no topo, a decoração é egípcia, a fachada principal está intercalada de sombrinhas e leques e a rematar o rés-do-chão estão vitrais de motivos orientais. Na mesma praça, o International Beer Bar tem vista directa para o mosaico. Não surpreende, portanto, que aí tenham buscado refúgio alguns dos que fugiam sem saber bem do quê. “Mesmo antes de chegar a carrinha, ouvia-se muito barulho e pessoas a correr”, dizem as empregadas, que preferem não dar o nome. Uma saiu para ver o que se passava mas as pessoas vinham a correr em sentido contrário. Ainda viu gente estendida no chão e deu-se conta de que já tinha visto isso. “Percebi que não era um acidente.” Não entraram muitas pessoas neste bar que, apesar do “international” no nome, é tipicamente espanhol. “Pensámos logo que a carrinha podia ser uma bomba e fechámos tudo.” Um dos que se abrigou aqui com a namorada acabou a prestar declarações à polícia, tinha visto bem o condutor. Viu também o rapaz que o socou quando ele conseguiu desbloquear a porta da carrinha. “Mas ele levantou-se e o outro paralisou, havia muitos corpos no chão”, terá contado. A imagem de uma criança ainda na frente da carrinha e alguém a tirá-la dá-lhes pesadelos. “Tudo parece incongruente”, dizem, embora várias vezes tivessem falado da falta de pilaretes na entrada da Rambla.

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