Fugas - Viagens

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O dia em que jantámos na Panónia

Os dois estão desde há alguns anos à frente de Taubenkobel, uma aventura que começou com os pais de Bárbara, Walter Eselböck e Eveline Eselböck. É preciso dizer que estamos perante uma família muito pouco convencional e que, pelo menos pelas fotos (não os chegámos a conhecer pessoalmente) Walter e Eveline parecem irmãos de Bárbara e Alain.

Na apresentação que acompanha a sua fotografia no site, Eveline descreve-se como uma “embaixadora” da ideia de vinhos naturais. Quando, há mais de vinte anos, Taubenkobel nasceu, numa casa rural da pacata localidade de Schützen am Gebirge, a ideia de uma mulher sommelier, e ainda por cima especializada em vinhos naturais, era algo de muito inusitado para a conservadora Áustria. No entanto, foi precisamente esse o caminho que Eveline quis tomar.

E, com a comida de Walter e a carta de vinhos escolhidos por Eveline, Taubenkobel foi crescendo – chegando mesmo a conquistar duas estrelas Michelin. Mais recentemente, já com Alain responsável pela cozinha, foi considerado pela revista Forbes como The Coolest Place to Eat 2016.

Bárbara leva-nos a uma pequeníssima sala ao lado da recepção. “Quando os meus pais compraram a casa, aqui era o meu quarto e da minha irmã [Stephanie, que iremos conhecer mais tarde, produtora, com o marido, dos vinhos Gut Oggau]”. O espaço era mínimo, mas foi crescendo, sempre para a parte de trás – como as habitações com fachada para a rua principal são sempre mais caras nesta região, é habitual entrarmos numa casa que parece pequena e descobrirmos que, à medida que caminhamos em direcção às traseiras, ela desdobra-se em várias outras. Taubenkobel é assim.

Passamos a recepção e a entrada do restaurante, seguimos pelo jardim e vamos encontrando recantos, outras casinhas, um pequeno lago-piscina, espreguiçadeiras à sombra de grandes chapéus de palha, mesas de madeira entre árvores, mais um espaço com bancos cheios de almofadas para nos sentarmos.

Os quartos de Taubenkobel são espalhados por este jardim, que nos conduz também ao Greisselerei, o pequeno restaurante mais informal onde são também servidos os magníficos pequenos-almoços, que por si só justificariam uma estadia aqui – sumo detox verde, batido de frutos vermelhos, iogurte com frutos secos, carnes curadas, um delicioso fiambre artesanal com rábano ralado, um queijo excelente, tudo vindo de produtores locais, excepto o pão, feito no forno de lenha da casa. O ponto alto, no entanto, é um ovo escalfado e frito servido num anel de presunto frito.

É depois de um destes pequenos-almoços que saímos com Alain para apanhar ervas selvagens que ele vai usar no jantar dessa noite. Partimos no seu Mercedes azul clarinho de 1968 em direcção aos campos que rodeiam a aldeia. De um lado, milho, do outro, girassóis, e Alain pára o carro para nos mostrar onde, junto de um pequeno curso de água, se encontram ervas selvagens com sabores surpreendentes. Algumas, ele próprio não conhece e vai provando para ver de que forma as pode integrar no seu menu de degustação.

É altura de voltarmos a ouvir Peter, o sommelier que nos levou a passear de carro pela região. “No início, com Walter e Eveline, o foco era nos ingredientes que se podiam encontrar num raio de 100 quilómetros e no que se podia fazer com eles. Começaram, logo aí, a dizer que não precisávamos de usar produtos de luxo como o foie-gras ou o caviar. Agora vamos um pouco mais longe e dizemos ‘A nossa casa é a Europa’ e podemos ir buscar os melhores ingredientes à Hungria ou à Croácia. Há aqui uma mensagem política sob uma forma culinária.”

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