Fugas - Viagens

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O dia em que jantámos na Panónia

 

 

Jovens e biodinâmicos

 

 

Desde o tempo dos romanos que a região na fronteira entre a Áustria e a Hungria – actualmente a província de Burgenland – é conhecida pela produção de vinho. Hoje é cada vez mais famosa pelos vinhos naturais de produção biodinâmica que recuperam castas autóctones como a Blaukfränkisch ou a Furmint.

 

A família Gut Oggau

Fazer o vinho em que acreditavam foi a parte mais fácil para Stephanie e Eduard Tscheppe-Eselböck. O mais difícil, no início, em 2007, foi convencer as pessoas a comprá-lo. Hoje, dez anos depois, Gut Oggau é um dos mais famosos e apreciados vinhos biodinâmicos da Áustria.

“Lembro-me de estarmos numa prova em Viena e de as pessoas olharem para o nosso vinho, não filtrado, e pensarem ‘Que raio de vinho é este?’ Aceitamos que as pessoas não gostem do vinho, mas estavam mesmo a insultá-lo”, recorda Eduard. Stephanie abana a cabeça: “Eu tinha 25 anos, o Eduard 28, tínhamos colocado aqui todo o nosso amor, esforço, vida. Foi estranho.”

As reacções mais adversas foram dentro da Áustria e tinham a ver não só com o aspecto do vinho como com os rótulos, que são caras de membros de uma família fictícia, divididos em “avós”, “pais” e a “nova geração”. A ideia surgiu numa noite em que, depois de beberem um bocado, conta Stephanie, divertida, se lembraram de fazer corresponder a personalidade de cada vinho a uma pessoa. Os rótulos, que hoje distinguem estes vinhos em qualquer prateleira, “eram assustadores para algumas pessoas”. Mas quando a marca Gut Oggau foi descoberta por um importador na Dinamarca, começou a fazer o seu caminho de sucesso no cada vez mais vibrante universo dos vinhos naturais.

Sentamo-nos à frente de vários pratos de produtos locais, vegetais e ovos da quinta, charcutaria e queijos de produtores vizinhos, e abrimos uma garrafa de um dos vinhos da “nova geração”, o Atanasius, que, “apesar de ser excepcionalmente popular, tem algumas qualidades escondidas que o tornam ainda mais interessante” (a descrição de cada personalidade acompanha o vinho). Depois provaremos um Joschuari, “pai” de Atanasius, “personalidade carismática e complexa, que pensa pela sua própria cabeça”.

“Esta propriedade tem uma tradição muito antiga, de mais de 250 anos, na produção de vinho”, conta Eduard, que vem de uma família de produtores de vinho (Stephanie, filha dos fundadores do hotel e restaurante Taubenkobel, estudou fotografia). Compraram-na à antiga proprietária, que já ultrapassara os 90 anos e que se limitava a vender as uvas. A pouca intervenção nas vinhas facilitou-lhes a passagem para o sistema biodinâmico, do qual falam com paixão (têm a certificação Demeter).

Mostram-nos as caixas onde guardam o preparado feito a partir de estrume de vaca que é enterrado dentro de um corno para depois ser vaporizado sobre os solos. E explicam que este “não é um fertilizante, mas uma forma de criar mais actividade microbiológica na terra”, porque acreditam que não se deve incentivar as plantas a crescer demasiado. “O solo conta tantas histórias e depois temos tanta energia do cosmos, do sol. A única forma de pôr tudo isso numa garrafa é com os vinhos naturais. Não queremos ser provocatórios. A uva é harmonia.”

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