Fugas - Viagens

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O dia em que jantámos na Panónia

Meinklang, das vacas ao vinho

Pamhagen é uma localidade por onde passa a complexa história política da região. “Aqui antigamente era a Hungria”, conta Werner Michlits. “Depois da I Guerra, a nossa vila tornou-se austríaca, mas a parte sul ficou com a Hungria e as pessoas que tinham terras do lado húngaro podiam ir trabalhá-las.” Mais tarde, com a Cortina de Ferro, isso acabou. “Os russos queimaram as pontes e as pessoas de Pamhagen perderam as suas propriedades.”

Quando o Muro de Berlim caiu e as fronteiras se abriram novamente, os habitantes do lado húngaro não queriam fazer agricultura e venderam as suas terras a preços convidativos. Foi assim que os pais de Werner compraram a propriedade que vamos visitar com ele e onde a família (para além de Werner e da mulher, Angela, há ainda os dois irmãos dele, cada um com diferentes funções no projecto familiar) cria gado da raça Angus.

O objectivo é serem auto-suficientes em todo o ciclo de produção e, sendo biodinâmicos com certificação Demeter, usam o estrume do gado para as vinhas (que estão todas do lado austríaco), e, por outro lado, alimentam os animais com variedades de trigo mais antigas que estão a ajudar a recuperar na região. “São muito diferentes dos milhos de hoje, feitos de híbridos e que constituem uma alimentação artificial”, explica Werner.

Com este sistema, continua, “podemos criar um ciclo completamente sustentável, em que não estamos dependentes do exterior”. O problema é que “as pessoas perderam a confiança na natureza”, diz, enquanto nos mostra as vinhas, que nunca são podadas. Tal como no caso dos vinhos Gut Oggau, também os primeiros tempos da marca Meinklang (distingue-se pelas vacas nos rótulos) como biodinâmica foram mal compreendidos. “Riam-se de nós e era muito frustrante, porque isto era a nossa vida e as pessoas não davam valor.”

Mas agora são um grande produtor de referência da região e, tal como Eduard e Stephanie, também Werner não tem dúvidas sobre o caminho seguido. “A força da gravidade, por um lado, e a força da luz, por outro, são as mais importantes para a planta. É tudo ao contrário do que estudei em enologia, mas não é aldrabice esotérica, há de facto uma ordem natural em tudo isto.”

A adega de Claus Preisinger

Estamos na varanda da impressionante adega que Claus Preisinger construiu em Gols e em frente temos uma vinha. Se a observarmos com alguma atenção, vemos que as fileiras são distintas umas das outras e que o próprio solo que as rodeia é diferente. A explicação é simples: a divisão das terras que existe na zona significa que cada produtor pode ter apenas duas ou três fileiras aqui, outras duas ou três noutro terreno, no meio de vinhas de outros produtores – geralmente convencionais, o que traz vários problemas.

Mas, para Claus, essa diversidade tem vantagens. “Tenho 22 hectares certificados, não trabalho nas planícies, apenas nas encostas, e em cinco localidades, é um puzzle de vinhas diferentes, castas, altitudes, tipos de solo, é como estar num meio de um grande recreio a brincar com estas coisas.”

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