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A Cuba das jóias patrimoniais e das "majestosas montanhas verdes"

Por Andreia Marques Pereira, Sandra Silva Costa

Estamos longe de Havana, geográfica e, sobretudo, mentalmente, e tão pouco temos praias a intrometerem-se. Longe dos cartazes turísticos, portanto, mas perto da essência cubana, que se faz de história e natureza. De Remédios a Cienfuegos, daqui até Trinidad, percorremos cidades que são jóias patrimoniais.

O carnaval é uma parranda

É verdade que o poeta (Ary dos Santos) escreveu que o “Natal é quando um homem quiser” mas não esperávamos encontrá-lo em Maio em Cuba – falha nossa porque o poema segue: “Natal é em Dezembro/ Mas em Maio pode ser”. Não é comum, mesmo em Remédios, a pequena cidade do norte da ilha que é, a poucos quilómetros da costa, passagem (quase) obrigatória a caminho dos cayos Santa Maria e Las Brujas. Neste sentido somos privilegiados – fez-se Natal, literalmente, para turista ver. 

E aqui em Remédios isso significa uma batalha musical e de fogos de artifício, num ritual centenário que começou como forma de levar as pessoas à igreja para a missa do galo. Não só resultou como evoluiu para esta espécie de carnaval fora do tempo, Parrandas de Remedios, que é hoje uma das maiores festas populares cubanas. E então é sexta-feira e uma pequena multidão surge para nos dar música e muita confusão na praça principal da cidade que é uma das mais antigas do país: a data oficial aponta para a fundação em 1578, a data informal para 1513 (o que faria dela a segunda mais antiga, à frente, por exemplo de Trinidad) – a diferença é que em 1513 era propriedade privada.
O sol é inclemente nesta espécie de plaza mayor de Remédios (monumento nacional), que leva o nome de Jose Martí. É aqui que parece concentrar-se a vida desta cidade pequena e sem atractivos de maior excepto os que a arquitectura colonial nos dá e as gentes preenchem. Há quem veja nela uma mini-Trinidad, os edifícios coloridos a desenharem-na baixa e em harmonia, com algum comércio e um dia-a-dia que parece passar sem pressas. 

Sentados no café Louvre, na praça Martí, quase defronte à igreja de São João Baptista, a principal da cidade, edifício volumoso e atarracado que apenas sobe na torre sineira de três andares, é fácil entrar nesse ritmo lânguido que, inevitavelmente, o calor acentua. A conversa flui fácil, os estrangeiros são sempre fonte de curiosidade. Fidel – sim, “em homenagem ao comandante”, diz sem qualquer pergunta – fala-nos do 25 de Abril, dos claveles, e de Eça de Queirós; mas fala-nos mais da “vida boa” de Remédios. “Não nos falta nada”, desde casa, onde vai fazendo uns arranjos sempre que pode, a trabalho, a qualidade de vida. “A minha irmã conseguiu ir para Havana. Ela não o diz, mas sinto que está arrependida.” 

Remédios está muito longe de Havana. Não são só as cinco horas de viagem, é toda a maneira de estar. Está até longe de Santa Clara, a apenas 45 quilómetros de distância, cidade-ícone da revolução cubana, palco da sua última batalha. Quem aqui chega já está com as praias paradisíacas da costa e dos cayos na mente e é fácil desacelerar, sobretudo se se vem da capital. Não há multidões a solicitar a atenção para comprar CD e filmes pirateados, charutos ou apenas a pedir dinheiro. Talvez seja por os turistas serem poucos que Remédios se mantém como que parado no tempo. 

O coreto da praça Martí até ajuda a transportar-nos para o passado, ainda que os vendedores ambulantes rondem a zona, a única na praça à sombra de árvores e as ocasionais palmeiras. Encostado à parede lateral da Igreja de São João Baptista, Juanillo prefere o sol e a sua banca improvisada é uma máquina do tempo: revistas Life e National Geographic dos anos 50, velhos símbolos da Coca-Cola, relógios de bolso, postais antigos descolorados pelo tempo. Sentimo-nos como se estivéssemos a revirar um baú antigo, esquecido num qualquer sótão empoeirado. 

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