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Boston, a revolucionária tranquila

Por Andreia Marques Pereira

Dizem que é a cidade mais europeia dos EUA. A sua história, arquitectura, tradição cultural e académica desenharam um modo de ser muito próprio que Boston, a cidade onde se forjou a independência do país, vive com um charme irresistível.

Às vezes a hora de ponta e os seus engarrafamentos têm algumas virtudes. Sobretudo se o destino é um aeroporto e temos tempo para gastar. Assim, estamos a caminho do Aeroporto Logan, em Boston, o trânsito anda aos soluços e depois de mergulharmos debaixo da terra, sem skyline, rio e outras paisagens para escrutinar uma última vez, a nossa atenção foca-se mais perto. Sim, nos carros que nos ultrapassam, nos carros que ultrapassamos: muitos modelos que nunca havíamos visto, muitos jipes e SUV, não fossem os Estados Unidos obcecados com carros grandes, telemóveis omnipresentes nas mãos dos passageiros, um Ferrari vermelho descapotável vindo da Florida, algumas viaturas do Maryland e, claro, a maioria do Massachusetts, o estado de que Boston é a capital.

É nas placas de matrícula destes carros que vemos: Massachusetts em cima, “The Spirit of America” (“o espírito da América”) em baixo. E, nesse instante, os nossos três dias em Boston (que haveriam de ser prolongados, involuntariamente, quase mais 24 horas inúteis) encontram um sentido claro. Não, toda a “América” não está em Boston (ou Massachusetts), nem Boston está em toda a “América”; mas no Massachusetts, em Boston, encontra-se uma espécie de pré-história dos EUA que ainda pode ser vista como o ideal do “sonho americano”. Afinal, foi aqui que (quase) tudo começou e nós vamos seguir-lhe os passos — chamam-lhe Freedom Trail (Trilho da Liberdade) e nele incorpora-se, pelo menos, um determinado espírito da América.

Para quem chega, como nós, pela primeira vez a Boston, nada melhor do que mergulhar na sua história, pois o passado e o presente (e até o futuro) encontram-se em cada esquina (muitas vezes, literalmente), o que faz com que os percursos históricos sejam também um bom pretexto para conhecer o quotidiano da cidade.

Nesse processo, começa-se a compreender a cidade que muitos dizem ser a mais europeia dos EUA mas que teima em comparar-se com Nova Iorque, a sua némesis — ainda que a comparação seja, obrigatoriamente, maculada pelos termos. Há poucos para comparação, para o bem e para o mal, e começa logo por um dado objectivo: Boston tem 670 mil habitantes, Nova Iorque ronda 10 milhões — como não teriam de ser diferentes? Que se tranquilize Boston, epítome do charme do Novo Mundo que não esquece o Velho, pois vale bem uma visita por si só. A sua história, arquitectura, tradição cultural e académica e até localização enformam um modo de ser cujas raízes mergulham bem fundo na vida dos EUA.

Fundada em 1630, apenas 10 anos depois de o mítico Mayflower ter aportado algumas dezenas de quilómetros a sul, nas costas de Cape Cod, com os “peregrinos” e os seus sonhos de liberdade religiosa (da sua religião, claro — “eram muito intolerantes com as crenças de outros”, ouviremos de um guia, acrescentando algum sarcasmo: “os puritanos trouxeram muito de duas coisas: bíblias e carrancas”), aventura e, claro, comércio (já sabemos que nem só da dilatação de fés e impérios se fez o Novo Mundo), Boston foi, ainda é, um produto dessa mentalidade inicial.

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