Teresa Gaspar, a directora de recursos humanos
(Farol Design Hotel, Cascais)
A meio da conversa, Teresa Gaspar chama-nos a atenção para a vista que temos à nossa frente. Sentadas num dos recantos do bar, traçado a negros e pratas, do Farol Design Hotel, junto à janela e usufruindo de um dia soalheiro, parecemos pairar sobre todo o Atlântico. “É um privilégio trabalhar num sítio como este.”
Directora dos Recursos Humanos, Teresa chegou ao hotel em 2011 pelas mãos da directora-geral, Ana Maria Tavares que, com a experiência de 30 anos a correr o mundo da hotelaria (passou por Macau, pela Tailândia ou pelo Dubai), acabaria por se tornar uma referência para si. Recuando dois anos, e sempre com a ajuda de Ana Maria, conta-nos sobre o prazer de ter construído “uma equipa coesa e que se entreajuda” e que permite hoje ao Farol usufruir de estabilidade. “Somos 62 pessoas fixas, com mais de 40 nos quadros do hotel.” Isto ao longo do ano. Porque quando chega o Verão também chegam os estagiários. “Apostamos muito na formação. Se não tiver condições para dar essa formação prefiro não receber estagiários”, desabafa. Mas o empenho compensa: “Já tive estagiários aos quais acabei por oferecer um contrato. Alguns ainda cá estão, outros vão crescendo e encontrando outros caminhos”, diz, sem esconder uma ponta de orgulho.
Nascida em Moçambique, conta-nos que viveu como “uma nómada” nos primeiros anos de vida. Aos quatro anos mudou-se para África do Sul, saltitando de localidade em localidade, até ter vindo para Portugal já em 1994, quando a filha mais velha tinha cinco anos. “Foi uma mudança muito estranha. Só falava o inglês e o africâner. O meu português era muito rudimentar. Depois era o conduzir do lado contrário. Houve uma vez que só reparei que estava a circular no sentido contrário depois de um taxista me ter chamado todos os nomes. A partir daí, decidi andar de autocarro até me habituar”. Nos transportes públicos também havia estranheza. “Infelizmente, a coisa mais normal na África do Sul era em qualquer lado — num autocarro, numa casa de banho, num parque infantil — não ver negros”, recorda num dia em que também Teresa, mesmo vivendo em Portugal há quase duas décadas, se sente um pouco de luto. Na noite anterior tinha chegado a notícia: Madiba morreu.
1994 ficou para a história da África do Sul como o ano em que se viveram as primeiras eleições livres. Para Teresa, o ano ficava para a sua história como aquele em que o seu mundo mudou, ao vir com o então marido e com a filha para Portugal. “Primeiro arranjei um emprego em secretariado, mas o meu domínio do português era para rir: um dia mandaram-me levar uma carta ao marco [de correio] — imagine-se o meu pânico por não saber quem era o Marco”, lembra entre risos.
Foi mudando de emprego — “Não me lembro de estar um dia desempregada, felizmente” —, da LG ao BPN, em diversas funções, até passar pela Segurança Alimentar, embora na realidade “fizesse um pouco de tudo”. Até lhe chegar a proposta para assumir os Recursos Humanos do Farol numa altura em que tinha acabado de entrar em Psicologia na Universidade de Lisboa — “O curso ficou adiado, mas ainda espero fazê-lo. Talvez um dia mais tarde”, sorri, “quando chegar a idade da reforma”.