A cozinhar num hotel dedicado ao design, em que o sentido estético não é descurado em nenhum detalhe, nem sequer nas temporárias decorações de Natal que vão sendo montadas enquanto conversamos, Hugo Silva concorda com a importância de como o prato é apresentado, mas também do quanto os sabores não podem ser descurados. Por isso, é fácil imaginar o festival para os sentidos que será comer por aqui. A começar pela visão: o restaurante reparte-se por três salas, duas das quais envidraçadas sobre o mar. É numa destas, a dedicada ao sushi e enquanto pela cozinha já se prepara a hora de almoço, que Hugo faz uma revisão à sua carreira.
Passou pelo Lawrence’s, em Sintra, esteve no Fortaleza do Guincho — “há dez anos era ‘a’ escola; não é à toa que mantém a sua estrela Michelin há anos” —, foi para o Albatroz, onde aperfeiçoou os conhecimentos de pastelaria (“Era o único lugar que tinham e achei que era uma boa oportunidade para aprender esta área”). Não se limitou, porém, a aprender dentro de portas. Em Espanha, passou por vários espaços, até ter conseguido o ambicionado lugar na cozinha de Santi Santamaria. “O Santi era muito exigente — cinco minutos de atraso davam direito a perder uma manhã de folga —, mas também muito generoso, sempre disponível a explicar qualquer detalhe.” Ficou seis meses.
Depois de todas estas experiências, o somatório pode ser encontrado nos menus que concebe. Explica que oferece uma cozinha moderna de autor, mas tendo em conta trabalhar tanto para turistas não despreza a cozinha tradicional. Pelo contrário. Na carta, há sempre pratos tradicionais e, estando o hotel tão ligado ao mar, o peixe fresco. A diferença, diz-nos, está na apresentação: “O peixe grelhado, por exemplo, chega à mesa já sem espinhas.”
Actualmente, relata, o seu trabalho passa cada vez mais pelo escritório. No entanto, a cozinha não deixa de ser o seu habitat natural. E, embora à hora dos almoços muitas vezes não consiga cozinhar, aos jantares não perdoa e deita mãos à obra.
Hugo Silva está no Farol Design Hotel desde 2007. Entrou ainda com a anterior gestão e só depois soube da mudança. Nos primeiros tempos saboreou a instabilidade, com a constante entrada e saída de pessoal. Hoje, pelo contrário, revela confiança na equipa que gere. Por isso, só agora equaciona a possível inscrição no afamado Guia Michelin. Ainda assim, prefere esperar um pouco mais antes de tomar essa decisão. “Uma vez obtida a estrela, não se pode perdê-la”.
Gabriela Meireles, a proprietária-anfitriã
(Casa do Campo)
Portões escancarados e uma enorme porta de madeira pesada aberta. Avançamos por um átrio pétreo até um pátio interior até vermos uma aberta, no topo de uma escadaria. Gritamos bons dias e pedimos para falar com Gabriela Meireles. “Está na horta.” Não passa muito tempo até chegar Gabriela, pouco depois de Mel, um labrador cor de chocolate, fazer a sua aparição. Estamos em Molares, Celorico de Basto, na Casa do Campo, um solar que começou quinhentista e acabou setecentista. É casa de família e é casa de quem queira desde que abriu as portas ao turismo de habitação — na rede de Solares de Portugal. “As pessoas fazem como vocês, vão entrando”, descreve Gabriela. Não se ficam, contudo, pela soleira — avançam porque todas as portas do solar estão abertas.