Fugas - Viagens

  • Adriano Miranda
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A cidade que nunca dorme afinal é aqui


Onde comer

Antes de sentarmos os leitores à mesa, é preciso fazer um aviso prévio: os sérvios são apaixonadamente carnívoros e nenhuma refeição local digna desse nome escapará com vida a essa fatalidade imprópria para vegetarianos — aos quais adoram dizer que um verdadeiro jantar local mete carne na entrada, carne no prato principal e carne na sobremesa (e nós também adoramos que sejam tão politicamente incorrectos).

Posto isto, também convém dizer que a cozinha em Belgrado é bastante internacional e que é possível não comer carne mesmo sem fugir à gastronomia sérvia — por exemplo, começando por uma sopa de cogumelos, seguindo para um burek (pastel) de queijo com muita salada no prato ao lado (os tomates e os pimentos vermelhos são felizmente omnipresentes) e acabando com uma baklava de ameixas ou de maçã. Claro que não será a mesma coisa: o que pode um vegetariano fazer, por exemplo, num restaurante daqueles clássicos como o Ima Dana onde depois do gigantesco prato de carnes fumadas aparece um gigantesco prato de carnes grelhadas? Pouca coisa, além de se atirar ao pão (que na Sérvia normalmente é de milho e na verdade bastante delicioso) e barrá-lo com ajvar (uma espécie de dip à base de pimentos vermelhos) ou kajmak (uma espécie de nata coalhada mais ou menos amarela e intensa, conforme o grau de "envelhecimento").

Questões de dieta alimentar à parte, o bairro de Skardarlija, que Belgrado publicita como o seu Montmartre (também foi um centro da boémia artística no final do século XIX), é um dos sítios óbvios (talvez demasiado óbvios) para se levar um turista a jantar. Come-se de facto muito bem (e sobretudo muito), mas se a ideia é fazer uma viagem no tempo e aterrar numa genuína kafana (ver texto principal) vale a pena procurar o ? (não é engano, o nome deste restaurante é mesmo um ponto de interrogação), aberto e a servir galinha recheada e borrego cozinhado em panela de ferro desde 1823.

Outra instituição, esta aberta desde 1937 mas a praticar uma bastante satisfatória cozinha de fusão (e sabendo a overdose de carne que nos espera não há como resistir ao bife de atum com abacate...), é o Madera, com uma enorme esplanada em pleno Parque Tasmajdan onde a FUGAS viu comer todo o tipo de VIP, desde uma das várias ex-mulheres do futebolista Lotthar Matthäus a uma ligeiramente caída em desgraça pivô de televisão (coisas do Facebook...).

A FUGAS sentou-se ainda à mesa dos ligeiramente mais descomprometidos Public Dine & Wine, com vista para o Danúbio, e Diagonala. O orçamento, claro, teria ficado a ganhar com uma refeição num dos estaminés do Mercado Kalenic, onde à hora do almoço trabalhadores de fato-macaco empurram sandes de carnes fumadas com a cerveja local. Além de ser um bom sítio para comer, o mercado também é um bom sítio para comprar produtos caseiros e cem por cento artesanais: tudo, do ajvar ao kajmak, das compotas aos sumos, das frutas aos ovos.


Uma crónica alternativa da Jugoslávia, das receitas de Tito às ruínas da NATO


É possível que a regra tenha sido quebrada mais do que uma vez, mas não ao ponto de deixar de ser a regra: mesmo quando viajava (e viajou muito, como Presidente da Jugoslávia e como líder do Movimento dos Não-Alinhados, que fundou em estilo numa cimeira no Hotel Metropol Palace em 1961), o marechal Josip Broz Tito (1892-1980) nunca comia fora. Talvez não soubesse o que perdia, mas sabia o que ganhava: o mundo continuava em guerra, ainda que fria, e Tito sabia que um jantar, ainda que quente, também podia ser uma arma. Ele, pelo menos, preferia andar armado. Não viajava sem o seu próprio chefe de cozinha nem sem o seu próprio cabaz alimentar, rigorosamente inspeccionado à partida e à chegada. Mas sobretudo não viajava sem Branko Trbovic, o químico que durante várias décadas usou como escudo pessoal contra o risco bastante realpolitik de um envenenamento.

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