Fugas - Viagens

  • Adriano Miranda
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A cidade que nunca dorme afinal é aqui

Terá sido também graças a ele (e, claro, ao efeito nada negligenciável de não haver eleições livres na sua Jugoslávia não-alinhada mas nem por isso multipartidária) que Tito sobreviveu imperturbavelmente a mais de 30 anos de liderança. E é seguramente graças a ele que hoje podemos saber que no Outono de 1977, quando Ramalho Eanes o recebeu à mesa em Lisboa, os dois comeram um strogonoff – preparado, claro, por um cozinheiro jugoslavo. A receita desse strogonoff, assim como dezenas de outras que Tito mandou cozinhar, em casa ou no estrangeiro, para os seus convidados internacionais (de Estaline a Sophia Loren), acompanha uma fotografia a preto e branco desse jantar muito de época mais ou menos a meio das 253 páginas de Tito’s Cookbook, um livro de culinária que é também uma crónica alternativa dos anos em que a Jugoslávia ainda era a Jugoslávia.

Disponível para entrega em todo o mundo via Amazon, mas em lugar de grande destaque na loja de souvenirs mais hipster de Belgrado, mesmo em frente ao posto de turismo da Knez Mihailova, o álbum compilado por Anja Drulovic é apenas a ponta do icebergue da Titomania que nos últimos anos parece ter-se instituído como desporto nacional (ainda assim menos popular do que o basquetebol) não só na Sérvia como, genericamente, em toda a ex-Jugoslávia.

Mesmo tendo morrido em 1980 (e tido talvez o maior funeral de Estado de todo o século XX, com 209 delegações vindas de 128 países e incluindo 31 presidentes, quatro reis, seis príncipes e 22 primeiros-ministros), Tito continua vivo em t-shirts e serviços de chá, porta-chaves e esferográficas, nomes de ruas e estátuas de aldeia, mealheiros e marcas de água mineral, graffiti e bonés, isqueiros e postais (e contra nós falamos, porque foi impossível resistir a este Tito de óculos de sol e calções de banho que apanha sol numa ilha croata no Verão aparentemente auspicioso de 1949).

A "nostalgia vermelha"

A académica Mitja Velikonja, que decidiu estudar o fenómeno numa tarde em que estava a tomar café em Liubliana e reparou que Tito a observava do alto de um pacote de açúcar, faz um inventário dessa omnipresença em Titostalgia A Study of Nostalgia for Josip Broz (2008), um livro que começa por perguntar "o que é que Tito significa, aqui e agora?" para concluir que a vida que Tito teve depois da sua morte (uma vida sentimental, mas também uma vida comercial) é apenas o capítulo jugoslavo de um fenómeno disseminado por toda a Europa pós-comunista, do Báltico aos Balcãs: a "nostalgia vermelha".

"A imagem positiva de Tito que persiste hoje tem menos a ver com o tipo de pessoa que ele realmente foi do que com o tipo de pessoa que os nostálgicos de hoje gostariam que tivesse sido", escreve, sublinhando o efeito analgésico que a Titostalgia (uma forma mais simples, e seguramente mais gráfica, de dizer Jugostalgia) parece exercer sobre as inevitáveis dores da transição num país como a Sérvia, que ao contrário das outras ex-repúblicas jugoslavas perdeu tudo o que tinha a perder.

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