Fugas - Viagens

  • A Boa Vista oferece 55km de praias
    A Boa Vista oferece 55km de praias Fernando Borges
  • Pelas águas, Tibo Évora e a música de Cabo Verde
    Pelas águas, Tibo Évora e a música de Cabo Verde Fernando Borges
  • A gruta como moldura para a praia da Varandinha
    A gruta como moldura para a praia da Varandinha Fernando Borges
  • Na praia do Morabeza
    Na praia do Morabeza Fernando Borges
  • No Deserto de Viana
    No Deserto de Viana Fernando Borges
  • No Deserto de Viana
    No Deserto de Viana Fernando Borges
  • Entrada para zona de reserva de protecção especial das tartarugas
    Entrada para zona de reserva de protecção especial das tartarugas DR
  • Curral Velho, aldeia abandonada à espera de novos projectos
    Curral Velho, aldeia abandonada à espera de novos projectos DR
  • Um dos areais infinitos. Praia do Curralinho
    Um dos areais infinitos. Praia do Curralinho DR
  • Na praia do Cabo de Santa Maria, cargueiro naufragado
    Na praia do Cabo de Santa Maria, cargueiro naufragado Fernando Borges
  • Em Sal-Rei, em construção, com a bandeira do país na fachada
    Em Sal-Rei, em construção, com a bandeira do país na fachada DR
  • Um dos artesãos do barro, Alcides, em Sal-Rei
    Um dos artesãos do barro, Alcides, em Sal-Rei DR
  • Mural a apelar à protecção das tartarugas
    Mural a apelar à protecção das tartarugas DR
  • Sal-Rei, na praia do Estoril
    Sal-Rei, na praia do Estoril DR
  • Sal-Rei
    Sal-Rei Fernando Borges
  • Sal-Rei, mergulhos ao pôr do sol
    Sal-Rei, mergulhos ao pôr do sol David Lewis/Reuters

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Morna era a ilha. Depois começou a aquecer

Sentados na caixa aberta da nossa pick-up (e havemos de passar o tempo entre várias, que é um dos transportes a que estes caminhos obrigam), vagueamos pela ilha, pisamos o deserto, acenamos a palmeiras perdidas, cruzamos oásis de tamareiras, vamos conversando pelas terras, surpreendemo-nos com resorts que parecem miragens surreais no meio do nada, atravessamos muitas terras secas e poucas terras férteis, calcorreamos solos marcianos e dunas lunares, cumprimentamos outros viajantes de carrinhas e das mais barulhentas e intrusivas moto 4.

Entre cada vírgula, a praia, as omnipresentes praias, largas como o mundo, dezenas e dezenas delas envolvendo toda a ilha (mais de metade das praias do arquipélago de Cabo Verde estão aqui) de areias finas, branquinhas ou douradas, bordejadas por águas translúcidas, um azul-turquesa que, claro, havemos de descobrir quentinho (varia ano fora entre 20 e 25 graus…). Quase sempre, sem ninguém (ou quase) à vista, que, à excepção de alguns povoados, o grosso da população reside na capital, Sal Rei.

Andamos de praia em praia já vindos dos 6km da "nossa" praia de Chaves, zona de desenvolvimento turístico com uma linha de resorts, onde se inclui o que nos alberga, o Iberostar, eficiente complexo com areal aos pés que, como os seus vizinhos, é uma verdadeira cidade balnear sob regime tudo-incluído. Poderíamos ter ficado por ali, como muitos milhares dos turistas deste sistema que domina os programas de férias locais, entre os restaurantes que cozinham especialidades locais com internacionais, piscina perfeita com contorno para o infinito, spa ou bares de piscina ou de praia, preguiçando numa quente brisa enquanto os animadores de serviço motivam os turistas para a dança ou para os jogos, espreguiçando nas camas colocadas no areal à beirinha da água. Para quem é adepto do TI e quer dar-se o luxo de uns dias sem mexer um dedo, a ilha é um paraíso a ter em conta e há meia dúzia de cidadelas turísticas (e outras em desenvolvimento) artilhadas com toda a preguiça a que se tem direito. Mas, vá, faça como nós e meta-se também ao caminho para descobrir outras essências da Boa Vista. Não é fácil e há que ter em conta que pode ser demorado, já que embora a ilha tenha ligações por estrada alcatroada, as passagens a muitas das boas vistas que procuramos são por caminhos empedrados e maioritarimente de terra (mais e menos) batida e/ou esburacada, pela areia e por nuvens de pó.

Nas areias do tempo

Custa, mas esqueçamos por momentos a praia. Sigamos antes directos para o deserto. Sim, há um deserto no meio do mar. Nesta ilha de pouco mais de 620km2, com uns 29km de largo por 30km de comprimento, a meio milhar de quilómetros do continente africano, cabe o real Deserto de Viana, que avança pelo noroeste da ilha, no interior da Ribeira de Estância de Baixo.

É a surpresa chamada Sara: desse gigante africano, trazem os ventos as areias que aqui se elevam branquinhas e finas, erigindo dunas clarinhas, corredores e abruptos vales. Coisa monumental onde, tal como as areias, parecem chegar trazidos pelo vento os vendedores senegaleses, que dominam o comércio do artesanato por toda a ilha. “Costumo dizer que daqui, este artesanato só tem a areia”, há-de dizer-nos fonte local bem informada. Mas já iremos ao verdadeiro artesanato. Para já, o certo é que senegaleses e deserto do Sara, esculturas em madeira de modelares africanas e máscaras tribais, aqui e agora, parecem casar-se em onírica perfeição.

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