Não esquecemos esta realidade enquanto mergulhamos como que na perfeição nas águas da praia do Estoril, uma calmia num baixio que nos cobre de água quente transparente, numa linha ordenada de restaurantes, hotelaria e esplanadas de topo. É com os olhos no ilhéu que guarda as ruínas do Forte Duque de Bragança, memórias das antigas defesas portuguesas, que passeamos pela capital da Bubista, colorida pelos barcos de pescadores e pelas casas que guardam traços coloniais.
A vida corre calma, entre a esplanada central à volta da qual tudo se joga, os mercados de frutas e vegetais e de peixe, as ruelas calcetadas, entre as cachupas e o caleidoscópio de peixes frescos que parecem sair do mar para as mesas, os turistas que se preparam para o windsurf e o catamarã que circunda a ilha em volta turística, os sons de mornas e coladeras que nos chegam de algures, talvez um músico a ensaiar para um qualquer concerto nocturno.
Havemos de enterrar os pés na areia no Morabeza, perto da cidade, para um atum fresquinho e, mais que isso, havemos de celebrar a ilha na Ca Nicha, restaurante que se nos abre com um festim de lagosta suada para uma noite regada às mornas genuínas e reais do Romeu, como é conhecido José Carlos Mosso, director da escola de música municipal e pesquisador da música que a sua ilha deu ao mundo.
“Rochas à vista”, canta Romeu, enquanto a sua “sodade” continua a ecoar-nos na memória e à lembrança nos vem uma metáfora de mudança, lenta e rápida, da vida da magnética Boa Vista, uma imagem que se tornou iconográfica da ilha e do país: no nordeste da ilha, na praia de Atalanta marcada pela vida das tartarugas, naufragou em 1968 o cargueiro espanhol Cabo de Santa Maria (nome pelo qual a praia também é conhecida). O seu esqueleto ergue-se transcendental no mar e é parte obrigatória nas excursões turísticas. O tempo vai-o alterando sem nunca chegar a afundá-lo. Mantém-se estoico, como que num limbo entre passado e futuro. Afundará ou ainda acabará por tornar-se obra de arte?
Guia prático
Como ir
A TAP assegura desde Outubro voos directos Lisboa - Boa Vista às terças e sábados, ida-e-volta desde cerca de 500€ (do Porto ou Faro mais cerca de 42€). Há também voos via Sal com TAP ou a companhia cabo-verdiana TACV. Entre os operadores turísticos (casos de Abreu, Solférias ou Soltrópico), programas de sete noites por pessoa em ocupação dupla, dependendo do hotel e regime (alojamento e pequeno-almoço a tudo-incluído) e crianças poderá ir, voo incluído, de valores promocionais de cerca de 600€ a cerca de 1500€. Já os programas de réveillon ou períodos nobres de férias (muito concorridos) podem facilmente duplicar estes valores.
Actividades e deslocações
Excursões e passeios pela ilha (em carrinhas, jipes, moto4, etc.), mergulho, observação de tartarugas e (Maio a Setembro), baleias (Fevereiro a Maio) ou golfinhos e tubarões, surf, kite e windsurf, pesca, viagem de catamarã em redor da ilha, noites especiais de gastronomia e música. Todos os hotéis e operadores (como a Barracuda Tours, www.barracudatours.com) disponibilizam estes programas. Para observação de tartarugas (época de Maio a Setembro) poderá também contactar a Naturália (www.naturaliaecotours.com) ou associações como a Fundação Tartaruga (www.turtle-foundation.org), Natura 2000 (caboverdenatura2000.com) e BIOS (www.bios.cv). Além de viagens em grupo ou rent-a-car, um taxista de carrinha pode custar 10€ por deslocação simples, 40€ uma manhã ou até 100€ um dia dependendo das zonas e distâncias.