Fugas - Viagens

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Os jovens, os resorts e a foice

 

A terceira região

Nos últimos anos, na costa do centro do país, hotéis e resorts cresceram sem parar — e tão cedo o crescimento não vai abrandar. A região assiste a um irreprimível investimento em infra-estruturas hoteleiras, para clientelas diferentes, claro, mas com um investimento avultado no segmento dos resorts de cinco estrelas, alguns dos quais internacionalmente premiados. Os resorts situam-se em ilhas ou penínsulas — alguns têm funicular ou teleférico, canais e barcos, piscinas e mais piscinas, spa, tudo o que se quiser —, são grandiosos ou elegantemente discretos e em locais de uma beleza única. Encostam-se uns aos outros ao longo de quilómetros de costa. As praias, com as suas baías, são irresistíveis, o calor é uma constante, a humidade também. O Vietname voltou-se para o mar do Sul da China.

Cidades como Da Nang ou Nha Trang, mais a Sul, semearam as suas torres, flamejantes durante a noite, ao longo das marginais, baías de água resplandecentes, numa tentativa de se transformarem em pequenas Xangais. Fora dos principais perímetros urbanos, os resorts tomaram conta das praias — a costa do país tem 3400 quilómetros de extensão —, numa sucessão ininterrupta e diversificada de edifícios, a fazer lembrar destinos de praia como Bali, a costa tailandesa ou mesmo as Seychelles. Fora delas, cidades antigas como Hué ou Hoi An são destinos que permitem saltar do areal para a história que a guerra do Vietname não arrasou.

Como bem sabem, o Vietname é um país historicamente dividido entre Norte e Sul, quer por via da influência chinesa quer por via da influência indiana, o que resulta num curioso potpourri cultural e religioso. O que fez a sangrante dicotomia da guerra fria foi dividir o país a meio durante 20 anos: a reunificação só chegou em 1975 após a traumática saída de Saigão (hoje Ho Chi Minh) dos últimos norte-americanos e da derrota do exército do Sul. Hoje, podemos dizer que o país já não vive desse confronto entre Norte e Sul, que é a mesma coisa que pronunciar Hanói e Ho Chi Minh, com a fronteira a meio: a chamada DMZ, a zona desmilitarizada, que dividiu, de facto, este país entre 1954 e 1975. Se existe dicotomia, essa, agora, é outra: cerca de 70% dos 90 milhões de habitantes vive em zonas do interior do país, o que constitui uma das taxas mais elevadas de densidade populacional rural no sudeste asiático. Os rendimentos médios mensais oscilam entre os 73 dólares nas cidades e os 21 no campo, o que atesta bem o fosso entre o meio urbano e o rural.

“As pessoas pensam que o Vietname é do Norte para o Sul e do Sul para o Norte. Era assim, é verdade, mas há 20 anos. Hoje, não”. “Hoje”, explica Louk Lennaerts, da Center Cost Vietnam (CCV), “este é um país muito diferente”. A CCV reúne os estabelecimentos de hotelaria, com a colaboração da Vietnam Airlines, que comprou novos Boeing e Airbus para aumentar as ligações à Europa, Hong-Kong, Coreia do Sul, Singapura e Japão, num só objectivo: promover esta região do país como turismo alternativo às praias de Bali, na Indonésia, e às praias da Tailândia, tirando partido dos seus novos aeroportos internacionais e da conformidade política. O Vietname é o destino de praia mais próximo da China, um importante mercado para as ambições dos hoteleiros, mas a estratégia não passa pela aposta única nesse mercado de novos multimilionários. A costa central vietnamita quer uma clientela geográfica e culturalmente diversificada. “A nossa estratégia”, diz ainda Louk Lennaerts, “é desenvolver o triângulo Na Dang, Hué, Hoi An”.

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