Fugas - Viagens

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Os jovens, os resorts e a foice

Sérgio Arias, um brasileiro de 32 anos que um dia saiu de Teresina, em Fortaleza, para aprender inglês em Londres e nunca mais voltou, a não ser em férias, corrobora: “O centro é uma terceira região.” Arias, gerente executivo do La Résidence, um hotel de arte déco instalado na residência do governador francês na antiga colónia do Sudeste asiático, diz, a propósito da cidade de Hué, que a hotelaria deve ser um “importante sector de emprego para uma nova geração vietnamita” pós-colonização e sem o stress de guerra pós-traumático, que tão visível é do outro lado da fronteira, no Camboja.

 

Turismo e estabilidade

A Ásia move-se no equilíbrio seguro das duas rodas (dos motociclos e bicicletas que enchem as largas e novas avenidas); o Vietname pedala entre o “estado socialista” e o turismo. Os dois convivem com a burocracia indispensável, de proveitos satisfatórios para ambos. O que não é inédito ou singular. As análises mais correntes sobre o actual estado de desenvolvimento e conjuntura política terminam na conclusão de que “não há alternativa” ao turismo, num país pouco ou nada industrializado e com áreas rurais pauperizadas, e que o Vietname tem uma estabilidade política e social que outros países da região não podem oferecer, entre eles a Tailândia (objecto de um golpe militar na sequência de meses de instabilidade política).

Como serão as relações entre o socialismo e o turismo quando, e se, o Vietname se tornar num popular destino turístico? No Viêt Nam News, há quem peça, ou sugira, reformas: “Uma reforma institucional, na minha opinião, tem a ver com o estabelecimento e ajustamento de regulações oficiais para transitar de uma economia de planeamento centralizado para uma economia de mercado”, defende Nguyen Dinh Cung, director do Instituto Central de Gestão Económica. Tran Du Lich, deputado da Assembleia Nacional, monopartidária, observa que o estado, numa economia de mercado, não precisa de aumentar o papel da sociedade civil e que o Vietname precisa de focar a sua administração no serviço público e não na gestão: a criação de “organizações que prestem serviço público”. Cung acredita que organizações que prestem serviços não lucrativos em áreas como a educação, cultura, saúde, justiça (consultadoria), extensão agrícola, seriam um “benefício para a sociedade como um todo”. Há, também, quem ache que artigos como estes são incursões mais ou menos ficcionais no domínio da liberdade de expressão. E quem os atribua à Doi moi, uma espécie de versão vietnamita da Perestroika, que abriu o país ao investimento estrangeiro e que explica em grande parte o entusiasmo e o optimismo que se vive no país. Para percebermos melhor a razão do optimismo, recuemos a 1985 e aos primórdios da economia centralizada. Diz o Banco Mundial que, nesses anos pós-guerra, o Vietname vivia com cerca de 80%  de pobres — a percentagem actual é de 15 — e com uma inflação de 775%.

Não há indústrias inócuas e esta, seguramente, não o é em vários campos. Mas é o turismo que faz o país andar de um lado para o outro, que trouxe Grace do Dakota do Norte para um hotel em Na Dang e que anima Tiên todas as noites. E não restam dúvidas que esta é a grande indústria do país. Os números falam por si: o Vietname saltou de apenas 10 mil turistas estrangeiros em 1993 para mais de cinco milhões em 2010. Acresce que os vietnamitas também começaram a fazer turismo no seu próprio país…

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