Fugas - Viagens

  • O chef Ants Uustalu prepara o prato principal
    O chef Ants Uustalu prepara o prato principal Miguel Madeira
  • Tauno Laasik, 44 anos, prepara o peixe na cozinha comunitária em Tartu
    Tauno Laasik, 44 anos, prepara o peixe na cozinha comunitária em Tartu Miguel Madeira
  • O chef do Noa
    O chef do Noa Miguel Madeira
  • Um peixe ao vapor com puré de batata e alho selvagem
    Um peixe ao vapor com puré de batata e alho selvagem Miguel Madeira
  • No Restaurante Alexander, Padaste Manor, ilha de Muhu
    No Restaurante Alexander, Padaste Manor, ilha de Muhu Miguel Madeira
  • No Restaurante F-hoone, em Talin
    No Restaurante F-hoone, em Talin Miguel Madeira
  • No Restaurante Ööbiku
    No Restaurante Ööbiku Miguel Madeira
  • No mercado na ilha de saaremaa
    No mercado na ilha de saaremaa Miguel Madeira
  • Em Talin
    Em Talin Miguel Madeira
  • Em Talin
    Em Talin Miguel Madeira
  • Em Talin
    Em Talin Miguel Madeira
  • Mural em Tartu
    Mural em Tartu Miguel Madeira
  • O luxo do Hotel Padaste Manor
    O luxo do Hotel Padaste Manor Miguel Madeira
  • No Restaurante Alexander, Padaste Manor, ilha de Muhu
    No Restaurante Alexander, Padaste Manor, ilha de Muhu Miguel Madeira
  • Triin Ivandi, a guia no pântano de Marimetsa, em Haapsalu
    Triin Ivandi, a guia no pântano de Marimetsa, em Haapsalu Miguel Madeira
  • Porto de Parnu
    Porto de Parnu Miguel Madeira
  • Praia de Parnu
    Praia de Parnu Miguel Madeira
  • A estrada que liga as ilhas Muhu e Saaremaa
    A estrada que liga as ilhas Muhu e Saaremaa Miguel Madeira

Continuação: página 4 de 8

A Estónia que se come

Aprender o básico

Na cozinha cheira a pão, mas quem o vai amassar somos nós. Tauno Laasik, 44 anos, professor, e Triinu Akkermann, 32 anos, guia turística, decidiram lançar este projecto de cozinha comunitária em Tartu porque perceberam que uma das coisas que os turistas mais procuram é comida. O melhor, por isso, é pegar no que é da Estónia, como o peixe, e ensinar a arranjar — e, claro, depois servi-lo cozinhado.

Ao centro da cozinha deles há uma mesa enorme e é lá que Tauno põe o peixe. Um golpe ao meio e começa. “Está a cortar de forma a que fique mais limpo e não dê um gosto tão amargo”, diz Triinu. Frita o fígado e as ovas da lucioperca com cebola, farinha, ovo e manteiga — uma especialidade.

Já nos serviram vinho, já nos deram pepino marinado (só sal e água durante dois dias, há quem junte vinagre), já nos deram lucioperca fumada em cima de um pão com manteiga. Agora enquanto o peixe vai ao forno ensinam-nos a fazer o pão escuro, tradicional da Estónia.

“Isto é uma cozinha comunitária, não é um restaurante. Significa que vêm pessoas de todo o lado e que as vamos ajudar a preparar o jantar”, diz Triinu, com um enorme sorriso. “Quando se anda pela cidade, em Tartu e em Talin, vai-se aos restaurantes e o que se vê é o peixe que vem de outros mares, de outros países, que é congelado e sabe-se lá por quantos meses. As batatas vêm de outros sítios, os pepinos também. Temos aqui na Estónia muito bons produtos e não precisamos dos outros países para nos darem peixe, carne, temos tudo. Podemos ter peixe fresco a 25km, mas o que fazer com ele? Essa é a questão, por isso começámos a ensinar as pessoas.”

Na Estónia a comida serve-se fresca. E porque é que não há restaurantes com uma estrela Michelin?

A organização não respondeu à nossa pergunta. Mas na Estónia deram-nos algumas explicações. Apesar de achar que há apenas uns quatro restaurantes estónios que a merecem, incluindo os dele, Martin Breuer critica a organização por dar prioridade a mercados maiores. “Adorávamos que viessem cá, mas eles têm interesses económicos diferentes”, diz o dono do Alexander.

Tõnis Siigur: “Há muitos anos que as pessoas perguntam isso. Não é por não termos bons restaurantes. É como o Japão, que há uns anos tinha zero estrelas. É uma questão de negócio.” Talvez daqui a uns anos apareça a primeira e outras se sigam, conclui.

Há ainda outros factores: durante muito tempo, por causa da ocupação soviética, a Estónia não teve uma cozinha própria — não era permitido desenvolvê-la, explica, por seu lado, Ants. A independência aconteceu há pouco tempo (em 1991), por isso “a cozinha da Estónia ainda é muito jovem, não se desenvolveu assim tanto”, justifica. “Agora que somos independentes a cozinha está a desenvolver-se. Espero que um dia consigamos.”

É verdade que a cultura da alta cozinha na Estónia sofreu com a ocupação soviética durante anos, analisa a socióloga Pille Petersoo. “Não é que os chefs não fizessem um bom trabalho, mas todo o sistema sobre quem podia e quem não podia ir a restaurantes era muito artificial. Não havia uma economia de mercado” — e isso reflectia-se na cultura gastronómica.

--%>