Criado à imagem de um glaciar a flutuar no mar, o edifício branco parece não ter limites, já que rampas largas permitem o acesso ao telhado. E é por aí que, num frenesim constante, dezenas de pessoas passam constantemente, subindo por um dos lados, descendo pelo outro, apanhando sol no topo. Também se está bem ali e concluímos cada vez mais que Oslo, apesar do tempo incerto, apesar do frio que já se faz sentir, apesar da arquitectura pouco marcante (até a Catedral não impressiona) é um sítio confortável para se estar.
Um barco para ver os barcos
Resta-nos um dia na cidade e o primeiro trajecto da manhã leva-nos até ao embarcadouro de onde sai o ferry em direcção à península de Bygdøy, onde estão instalados vários museus. Não podemos ver tudo, por isso escolhemos apenas dois: o Museu dos Barcos Viking e o Museu das Tradições Norueguesas. O edifício em cruz que alberga os três barcos funerários viking dos finais do século IX — os mais bem conservados do mundo — é simples e sem adornos. Lá dentro é que está tudo o que interessa e que, se formos apaixonados pela matéria, nos pode fazer perder horas a apreciar cada pormenor, com os três barcos no centro de todas as atenções. Um deles, o barco de Tune, é apenas uma ruína de madeira, mas os outros dois, o de Oseberg e o de Gokstad, foram reconstruídos, depois das sepulturas em que tinham sido enterrados terem sido descobertas por agricultores, em finais do século XIX; hoje aparecem tal como deveriam ser, há mais de mil anos.
Além dos barcos, que se podem ver de praticamente todos os ângulos, graças aos balcões instalados em cada esquina dos braços do edifício, a que se pode subir, o museu tem outros vestígios vikings, incluindo jóias e impressionantes trenós de madeira trabalhada. Agora, também é possível ver os restos de esqueletos recuperados junto aos barcos.
É segunda-feira e achamos que é por isso que muitos dos edifícios do Museu das Tradições Norueguesas, ao ar livre, dedicado à descrição da vida na Noruega, do século XVI até hoje, estão fechados. Por isso, ficamos um pouco desapontados quando, ao passear entre as antigas casas de madeira, com os telhados cobertos de relva — que constantemente nos trazem à memória os versos “vamos lá imaginar/a Cidade do Penteado/onde as casas, para variar/têm cabelo e não telhados”, de José Barata Moura —, encontramos muitas delas fechadas. Felizmente, a Igreja Stave, construída em Gol pelo ano de 1200 e transferida para o museu em 1884, está aberta. E, neste caso, mesmo que não estivesse, não haveria grande problema, já que o que impressiona verdadeiramente nestas construções de madeira típicas da Noruega é a sua aparência exterior, com telhados e paredes que parecem encaixar-se uns nos outros, lembrando um puzzle tridimensional.
Abertas estão também as casas da Gamlebyen, a “velha Oslo”, com as salas, quartos e cozinhas que recriam o interior das casas da capital nos últimos 130 anos, e os espaços de exposição que mostram mobiliário, brinquedos e trajes tradicionais do país. Ou seja, havia muito para ver, mas as muitas portas fechadas (como as lojas dos artesãos) deixam-nos com a sensação que só usufruímos de uma pequena parte do espaço.