Fugas - Viagens

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Noruega: Dentro da paisagem e sem querermos sair dela

É perto de Bryggen, no mercado de peixe, que encontramos outro português. Tem os bigodes revirados, passa o dia a grelhar peixe fresco e é apenas um dos latinos que parecem ter tomado completamente conta do mercado. Só se ouve falar espanhol e italiano, além do português de Viana do Castelo, que faz ali “a temporada” — entenda-se, os quatro meses menos frios do ano — e depois, como nos explica uma espanhola ali ao lado, vai gozar os ganhos amealhados para outro lado.

No tempo que passamos em Bergen havemos de o ver ali, diariamente, às voltas com o seu peixe fresco, a apontar preços aos turistas que se instalam nos bancos ao ar livre, apesar do frio que, em algumas horas do dia, já pede um gorro, daqueles que se vendem ali ao lado. Dizem-nos que há outros portugueses por ali, mas não os encontramos. E, agora, é preciso aproveitar o sol para ver Bergen de outra maneira. Afastarmo-nos do porto e ganharmos perspectiva.

Instalamo-nos na fila para aceder ao funicular que sobe os 320 metros do monte Fløyen. O Fløibanen anda cheio, para cima e para baixo, mas nós compramos apenas bilhete de ida. Queremos descer a pé.

Lá em cima há um verdadeiro anfiteatro voltado para Bergen. A cidade estende-se, plácida, quase cercada por braços de água azul límpida. Daqui de cima não se percebe o quão inclinada é a rua que leva à nossa casa, e que nos deixa com a língua de fora de cada vez que temos de voltar para lá. Daqui de cima, Bergen é enganadoramente plana. Deixamo-nos ficar ao sol antes de nos voltarmos para a floresta. Podíamos embrenhar-nos pelos seus caminhos, percorrer os vários percursos que os habitantes de Bergen usam para as suas caminhadas, mas o tempo que nos sobra já não é muito.

Começamos a descer, parando para espreitar as esculturas em madeira espalhadas entre as árvores e os sinais cravados nas árvores que avisam as bruxas que não podem estacionar ali. Descemos devagar, enquanto jovens mulheres e homens empurram carrinhos de bebé encosta acima, num exercício que nos parece masoquista, mas que para aqueles noruegueses loucos deve ser coisa normal. 

Os fiordes, finalmente

Voltamos ao comboio. Desta vez o trajecto é mais curto, só até Myrdal, onde vamos embarcar noutro comboio, totalmente tomado por turistas, o Flåmsbana. Neste comboio verdadeiramente descendente (dos 864 metros de altitude de Myrdal desce até Flåm, apenas dois metros acima do nível do mar, passando por 20 túneis ao longo de 20 quilómetros, naquela que é considerada a linha mais inclinada do mundo) ninguém se senta. Todos procuram um espaço vago junto às largas janelas de vidro, para fotografar a paisagem espectacular que a viagem oferece. É uma mini-Disneylândia da paisagem sobre carris. À qual não falta um espectáculo.

A viagem dura quase uma hora e só tem uma paragem, junto à cascata de Kjosfossen. Momentos antes da paragem, a voz que invade a carruagem e vai descrevendo os pontos mais marcantes dos locais por onde passamos avisara que iríamos parar e que havia relatos de visões de “criaturas misteriosas” nas águas da cascata. Não percebíamos do que falava até ao momento em que, tentando escapar ao frenesim dos passageiros que se amontoavam junto ao miradouro em busca das melhores selfies, começamos a ouvir uma música vinda não se sabe de onde e nos apontam uma mulher que, de vestido longo, vai dançando em plena cascata. Apercebemo-nos, depois, que há outra “criatura misteriosa” nos rochedos à direita, fazendo os mesmos movimentos. As bailarinas aparecem e desaparecem, durante alguns minutos, entretendo os turistas boquiabertos, antes de soar o aviso de que o comboio vai partir e todos correrem para as carruagens.

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