Fugas - Viagens

Noruega: Dentro da paisagem e sem querermos sair dela

Por Patrícia Carvalho (texto e fotos)

A Noruega é linda e os fiordes são mesmo de cortar a respiração. Já sabiam? Pois nós confirmamos. Mas a Noruega tem outras coisas, como uma capital simpática a querer ser algo mais do que isso.

O dia tinha sido longo e já quase nos arrastávamos em direcção ao hotel, antecipando a viagem do dia seguinte para Bergen, o coração dos fiordes. Tínhamos acabado de deixar o Parque Vigeland, com as dezenas de esculturas do artista norueguês Gustav Vigeland, incluindo a do birrento menino de punhos cerrados que já víramos retratada em vários postais, e já só sonhávamos em sentarmo-nos em frente a uma pizza no Olivia, antes de irmos dormir, quando um casal, puxando um cão pela trela, se atravessou no nosso caminho. “São portugueses?”, perguntaram-nos, sorridentes. Eles também eram. Estivemos na Noruega, em busca dos fiordes e de um pouco mais, e ficámos com a sensação de termos encontrado um português em cada esquina. Sem trocarmos nomes, só impressões e um boa sorte, até mais logo, ganhamos mais do que a paisagem. E ela, sozinha, já teria sido suficiente.

Quisemos resistir e não partir logo para os fiordes. Sonhávamos com os fiordes, com as águas azuis e verdes, as encostas altas de rocha dura, com pequenas casas de telhado vermelho aos pés. Não tínhamos pensado que haveria tantas quedas de água, mas agora também já sonhamos com a possibilidade de um dia voltar a ver muitas outras quedas de água. Mas achamos que Oslo também merecia uma oportunidade e foi para a capital da Noruega que nos dirigimos primeiro. A cidade recebeu-nos bem e deixou-nos água na boca para o que está a crescer na marginal, e de que o edifício da Ópera é só um dos primeiros exemplos.

O hotel ficava mesmo nas traseiras do parque que rodeia o Palácio Real, o Slottsparken, pelo que o primeiro contacto com Oslo não teve muito que enganar: atravessar o parque, observar a fachada neoclássica do século XIX do Palácio Real, guardada por militares com cara de adolescente, e desembocar na Karl Johans Gate, a principal avenida da cidade. Aqui está-se bem. A avenida tem ar de boulevard, com árvores, flores coloridas e bancos de jardim, fontes, estátuas (há muitas estátuas na Noruega), lojas e esplanadas. Passamos pela Universidade, pelo Teatro Nacional, onde se anuncia uma peça do mais famoso dramaturgo norueguês, Henrik Ibsen, e pelo edifício em tijolo amarelo do Parlamento do país, o Stortinget. Fazemos um curto desvio para espreitar o edifício da Câmara Municipal, com o seu ar de estrutura industrial, mas já é tarde para a visita ao local onde, anualmente, se entrega o Prémio Nobel da Paz — o único que é entregue fora da Suécia —, pelo que deixamo-nos estar, a apreciar o sol que decidiu fazer-nos companhia, apesar da ameaça de chuva que nos acompanhou desde que chegámos. É sábado e todos parecem ter tempo, deixando-se ficar ao sol durante mais uns minutos. Fazemos o mesmo. Amanhã é outro dia.

História e modernidade

Acordamos com uma chuva certinha, que não nos dá descanso enquanto cruzamos, apressados, o Slottsparken, a tempo de apanharmos a visita gratuita das 10h à Câmara Municipal. O edifício em tijolo vermelho, concluído em 1950, tem duas torres rectangulares que se elevam acima de um corpo principal também de linhas rectas. Por fora, é pouco atractivo, mas lá dentro a história é outra. A guia leva-nos a percorrer o hall principal, com as suas paredes pintadas com cenas que percorrem a história do país, e em que a ocupação nazi, durante a II Guerra Mundial, parece estar sempre presente. É neste hall que se entrega o Prémio Nobel da Paz e a pequena galeria de fotografias, com destaque para o dia em que o presidente norte-americano, Barack Obama, foi premiado, mostra a disposição de cadeiras e convidados, no amplo espaço agora vazio. Subimos as escadas e percorremos salas e corredores profusamente decorados, com cenas da vida campestre e citadina de Oslo, lendas do país ou imagens bucólicas.

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