Quando apanhamos o ferry de regresso ainda é cedo para darmos o dia por terminado. Por isso, depois de uma pausa para saborear um tradicional bolo de canela, arriscamos um passeio em passo lento até ao Parque Vigeland.
Foi no regresso da visita a esta grande mancha verde da cidade que encontramos o casal de Vila de Conde, a sair de casa com o cão. Chegaram há ano e meio a Oslo, depois de uma passagem pela Suíça, e dizem-se satisfeitos com a cidade. Já encontraram outros portugueses, com quem partilham jantares ocasionais, e dizem o que os outros portugueses com quem haveremos de nos cruzar repetirão também: que o frio, a chuva e a pouca luz no Inverno são compensados pela qualidade de vida que o país mais rico do mundo tem para oferecer. Vão-se embora sem nos dizerem o nome e nós vamos jantar e dormir, porque no dia seguinte o comboio para Bergen sai às 8h05 e não nos queremos atrasar para aquela que é descrita como uma das viagens mais bonitas do mundo.
A Noruega à janela
Não nos enganaram. A viagem é lindíssima e muitos dos que vão a bordo não resistem a manter a máquina fotográfica à mão, pronta para disparar.
À medida que se afasta de Oslo, o comboio segue pelo meio de vastas florestas que, aos poucos, vão desaparecendo para dar lugar a um terreno mais inóspito, escarpado e gelado. De repente, há montanhas à nossa volta, o cenário é feito de rocha e parece que há água por todo o lado. Vemos lagos, rios, quedas de água, neve no topo das montanhas e, mais acima ainda, glaciares com a sua típica cor azulada. Amaldiçoamos o comboio que não pára, só um bocadinho, para podermos fixar o olhar na paisagem, sem que ela pareça estar sempre a querer fugir, amaldiçoamos os túneis por onde passamos e que, às vezes, só nos deixam vislumbrar um pedaço maravilhoso do planeta, antes de ele ficar para trás. Mas não conseguimos amaldiçoar nada por muito tempo, porque à nossa volta é tudo demasiado bonito.
Em Bergen, pousamos as malas na casa que alugamos, enchemos o frigorífico com as compras de supermercado que nos hão-de ajudar a sobreviver aos preços estratosféricos da Noruega e partimos em busca de Bryggen, o antigo quarteirão do porto da cidade, classificado pela UNESCO como Património da Humanidade. Os velhos edifícios coloridos de madeira, apesar dos vários incêndios que os fustigaram ao longo dos séculos, mantêm as características com que foram criados, no século XII, ainda que os que hoje existem datem do início do século XVIII.
A maior parte dos antigos armazéns e casas da habitação — as duas ocupações coexistiam no mesmo edifício — são hoje lojas dedicadas aos turistas, cafés ou restaurantes. É possível entrar nas vielas estreitas entre as construções e encontrar mais lojas, pátios interiores ou varandas a que se pode subir. Na extremidade do conjunto de casas de madeira, não se deve perder uma visita ao Museu Hanseático.
Instalado num colorido edifício de madeira de 1704, o museu mostra como viviam os comerciantes da Liga Hanseática que controlaram o comércio de peixe da cidade, desde meados do século XIV até ao século XVI. Lá dentro há escritórios, quartos mobilados e bacalhaus, num ambiente que nos transporta, durante os largos minutos que dura a visita, numa verdadeira viagem no tempo.