Fugas - Viagens

  • Taj Mahal, Índia
    Taj Mahal, Índia Brijesh Singh/Reuters
  • Machu Picchu, Peru
    Machu Picchu, Peru Mário Augusto Carneiro
  • Isfahan, Irão
    Isfahan, Irão Morteza Nikoubazl/REUTERS
  • Sanaa, no Iémen;
    Sanaa, no Iémen; Ahmad Gharabli/AFP
  • Hagia Sofia, Istambul, Turquia
    Hagia Sofia, Istambul, Turquia Bulent Kilic
  • Catedral de São Paulo, Londres, Reino Unido
    Catedral de São Paulo, Londres, Reino Unido STEFAN WERMUTH/REUTERS
  • Torre de Pisa, Itália
    Torre de Pisa, Itália Fabio Muzzi/AFP
  • Ópera de Sydney, Austrália
    Ópera de Sydney, Austrália Saeed Khan/AFP
  • Potala, no Tibete
    Potala, no Tibete REUTERS/CHINA DAILY
  • Ponte Henderson Waves Singapura
    Ponte Henderson Waves Singapura Tim Chong/Reuters

Continuação: página 4 de 9

Volta ao mundo em dez obras-primas

À medida que a tarde avança, o mármore de um dos mais belos monumentos do mundo vai mudando de cor e, paulatinamente, observa múltiplas transformações: aos tons dourados sucedem-se os vermelhos e os rosados são substituídos, quando o crepúsculo cai, pelos azuis, indicando o caminho da saída aos visitantes, eternamente magnetizados e incapazes de desprenderem o olhar desta maravilha que é Património da UNESCO desde 1983. É altura de fitar o Taj Mahal desde uma das margens do rio Yamuna e reflectir sobre as palavras de Salman Rushdie. “O edifício fez cair o meu cepticismo em pedaços. Mostrando-se pessoalmente, insistindo com a força da sua autoridade, simplesmente cancelou nesse instante milhões de imitações e encheu com o seu esplendor, de uma vez por todas, o lugar que na minha mente ocupavam as reproduções. E esta é, em definitivo, a razão pela qual o Taj Mahal tem que ser visto: para recordarmos que o mundo é real, que o ruído é mais verdadeiro do que o eco, que o original é mais potente que a sua imagem reflectida no espelho. A beleza das coisas belas ainda é capaz, nesta época saturada de imagens, de superar as imitações. E o Taj Mahal é, muito mais do que o poder das palavras para o descrever, uma coisa adorável, talvez a mais adorável de todas as coisas.”

Potala, Tibete

O homem, fazendo rodar o maikhor, sorri na minha direcção e, segundos depois, estamos os dois sentados num banco de madeira, em silêncio, erguendo os olhares para o majestoso Potala e para a bandeira, para mim chinesa, para ele, como tibetano, a bandeira de sangue, obrigados que são, sob pena de serem castigados, a hasteá-las nas suas casas. Uma mulher, a meia dúzia de passos de nós, em plena Praça Jokhang, mesmo em frente ao Potala, está prostrada no chão frio, uma entre tantos outros devotos que pretendem purificar a sua submissão aos cinco venenos: o desejo, a ignorância, a inveja, o orgulho e o ódio.

No lugar onde actualmente está a Jokhang existia, em tempos, um lago, o Wothang, dessecado com terra carregada por cabras. Por isso, no século VII, a cidade era conhecida como Rasa, “Terra das Cabras” - ra significa cabra e sa terra- e só mais tarde passou a ser designada por Lhasa, “Terra de Divindades”. Hoje, ainda mais com a chegada do comboio proveniente de Pequim à capital da Região Autónoma do Tibete, Lhasa bem poderia chamar-se “Terra dos Chineses”, tão descaracterizada está desde que, em 1959, foi invadida pelos militares, motivando a fuga de tantos tibetanos, como um com quem me cruzei, numa manhã silenciosa, no mosteiro de Tsuglagkhang, em McLeod Ganj, na Índia. Dorjee, hoje com 38 anos, era um menino quando partiu.

- Tinha quatro anos e meio quando deixei, em 1981, o Tibete. O meu pai fez-me prometer que nada contaria à minha mãe sobre a partida. Em troca, teria direito a um brinquedo. Mas na minha aldeia não havia nada.

O mosteiro ergue-se, na sua solidão, no monte Marpori, a colina vermelha, bem no coração de Lhasa. Muito mais do que a sua história, o Potala é uma lenda, um símbolo do Tibete e de tudo quanto representa esta terra longínqua, inacessível durante anos. Fito-o demoradamente e as palavras de Gorjee martelam o meu cérebro.

--%>