Caminho como alguém que deseja retardar o momento de chegar à praça mas é um sentimento cínico, anseio por ele, e agora, ao escrever, a boca abre-se de novo de espanto, recordando o instante em que, depois de transpor uma das portas, vi pela primeira vez aquele lugar com 500 metros de comprimento e 160 de largura, com os seus palácios, mesquitas e arcos que abrigam lojas. Os olhos não tardam a pousar na mesquita do Imã, na sua fachada principal, na sua cúpula, tantas e tantas vezes comparada, do ponto de vista artístico, à basílica dedicada a São Pedro, no Vaticano. Para um lado, perscruto a cúpula azulada da mesquita do xeque Lotfollah (sogro de Abbás I e em tempos chamada mesquita das mulheres), para o outro, a fachada do palácio de Ali Qapu, um poderio inigualável, um cenário encantador, das Mil e Uma Noites.
E por isso era conhecida como Esfahan nesf-é jahan – Isfahan, a metade do mundo.
Ponte Henderson Waves, Singapura
Em Singapura, há dois desportos preferidos, compras e comida, mas os amantes da arquitectura não se sentirão defraudados quando começarem a errar pelo tigre asiático com cabeça de leão, se bem que muitos (entre os quais me incluo) preferem os bairros mais tradicionais de Kampong Glam e Little Índia ou a ainda mais nostálgica Pulau Ubin, a ilha para onde se escapam os habitantes locais sempre que a saudade de um outro tempo lhes bate à porta do coração. Nos últimos anos, Singapura, a cidade que é uma ilha e a ilha que é um país, cresceu desmesuradamente, perdendo grande parte da identidade de tempos de antanho, quando Raffles a dominava, opondo-se ao poderio dos holandeses. Muitos são os monumentos vanguardistas mas o que mais me impressiona é a Ponte Henderson Waves, destinada apenas a peões, que ondula, como uma vaga (também se assemelha a uma serpente), a uma altura de 36 metros acima do solo (a mais alta ponte pedonal de Singapura), sobre a Henderson Road, ligando o Mount Faber Park a Telok Blangah Hill Park, num total de 274 metros de comprimento.
Ópera de Sydney, Austrália
Muitos acreditam, erradamente, que Sydney é a capital da Austrália – uma ideia que resulta do facto de ser a vitrina económica e turística da ilha. Para atrair tão elevado número de viajantes muito concorre a sua estrutura mais arrojada, a Ópera, construída em 1973 e projectada pelo até então desconhecido dinamarquês Jorn Utzon, o arquitecto que, na sequência de alguns desentendimentos com as entidades governamentais, regressou ao seu país, acabando por não ver a obra que o transportou para a imortalidade terminada.
Não foram fáceis os primeiros anos da maravilha que assenta num istmo que rasga as águas, uma área inicialmente prevista para a construção de um terminal marítimo. Com o tempo, a pressão exercida pela orquestra sinfónica e a companhia da ópera, cansadas da acústica do edifício camarário onde actuavam, produziu os seus efeitos e foi aberto um concurso público, ao qual concorreram mais de 200 projectos. Estávamos em finais da década de 1960 quando um novo problema se perfilou nos horizontes daquele que é um dos monumentos mais emblemáticos do século XX: como financiar obra tão megalómana, uma vez que o governo prometera não retirar um cêntimo do bolso dos contribuintes? Com um custo total estimado em três milhões de dólares australianos, criou-se a ilusão de que os donativos seriam suficientes para suportar a despesa, uma teoria que não tardou a cair pela base. A solução foi encontrada com a criação da Lotaria da Ópera, um ideia brilhante que resultou no pagamento total (os custos ascenderam a cem milhões de dólares australianos) da estrutura dois anos após a sua abertura, a 20 de Outubro, numa cerimónia marcada pela presença da Rainha Isabel.