E Angkor Wat? E as Pirâmides de Gizé? Então e Chichén Itzá? E a Ponte do Rialto, em Veneza, não caberia na lista? E a Torre Eiffel? E a Grande Muralha da China? E as igrejas de Lalibela, na Etiópia? E a Sagrada Família, em Barcelona? Esqueceram-se da Praça Vermelha, em Moscovo? Samarcanda, no Uzbequistão, não se lembraram?
Se lhe fosse dada a possibilidade, a propósito do Dia Mundial da Arquitectura, que se assinala a 6 de Outubro, cada leitor elaboraria uma lista diferente de grandes obras espalhadas pelo mundo. As mesmas dificuldades e dúvidas foram por mim enfrentadas e, aceite-se ou não, cada uma das eleitas, todas elas visitadas, exprimem uma singularidade. É, como na vida, uma questão de gosto, de opções, de inclinações.
Torre de Pisa, Itália
Ainda criança, não sosseguei enquanto não carreguei para o quarto a miniatura da torre que o meu pai um dia trouxera das suas viagens pela Europa. Na penumbra, gostava de ligar o interruptor e de ver o aposento banhado com aquela luz tímida que me enchia de serenidade, ao mesmo tempo que sonhava com o momento de tocar a original, num país que, na minha inocência, me parecia tão longínquo como inacessível. Agora, mais de 40 anos depois desse tempo de ilusão, não por falta de oportunidades mas por uma questão de prioridades, os meus passos pisavam finalmente a relva do Campo dei Miracoli, repleta de japoneses posando para a fotografia com a mão estendida, na presunção de amparar a torre.
Singular campanário que se começou a levantar em 1173 e assente numa pedra com apenas três metros de profundidade, a Torre de Pisa foi construída (em três períodos ao longo de quase 200 anos) num solo arenoso (logo instável) e, nos últimos três séculos, sem qualquer controlo no número de visitas, os especialistas detectaram uma inclinação de 4, 5 metros em relação ao seu eixo. Perante o risco de queda, as autoridades decidiram, em Janeiro de 1990, encerrá-la ao público, assim permanecendo durante mais de um decénio, para obras de restauro e de escoramento. Mas foi bem antes, em 1274, com a construção do terceiro piso, que se começaram a notar os primeiros sinais de inclinação da torre que desafia as leis da gravidade e que, entre tantos outros, também atraiu o cientista pisano Galileu, que a usou para experiências sobre a queda dos corpos.
No momento em que começava a vencer, com alguma dificuldade, os 297 lanços de escadas em espiral deste ícone medieval, senti-me um privilegiado e mais ainda quando, do topo, sob um céu azul-cobalto, deixei pousar o olhar na praça, gozando da panorâmica sobre o Duomo e o Baptistério de São João, ambas estruturas mais antigas, e, para o outro lado, sobre a encantadora cidade toscana, rasgada pelo rio Arno, de infinita beleza ao entardecer.
Construída totalmente em mármore multicolorida, a torre, em estilo pisano-românico e que teve, segundo alguns estudiosos, Bonanno Pisano como primeiro arquitecto, apresenta um diâmetro na base de 16 metros e uma altura (se estivesse na vertical) de praticamente 56 metros, um total de oito andares, seis dos quais com uma galeria de arcadas à volta do núcleo central que lhe conferem uma harmonia perfeita.