Dou mais uma dentada no delicioso porquinho-da-índia e espraio uma vez mais o olhar, agora até ao Templo do Sol, sobre a minha direita, com o seu muro semi-circular. No centro, um altar monolítico sobre cuja superfície foi traçado um sulco alinhado com um ponto por onde sai o sol durante o solstício de Junho, alegadamente um observatório astronómico, e, na base, uma gruta, lugar importante de culto e de oferendas.
O sol vai baixando, lentamente, a luz e a sombra pintam as ruínas das casas quadrangulares, feitas de blocos de pedra, com os seus interstícios cheios com outras de menor dimensão e mais irregulares, as pachillas. Num tempo distante, uma armação em madeira era coberta por palha para formar o telhado, uma técnica ainda hoje em uso entre os quéchuas.
Inicio agora, juntamente com a família, o caminho de regresso, com a t’shirt de Sonia Morales sobre o corpo, e sinto que todos os olhares, entre os muitos peruanos que visitam Machu Picchu, a cobiçam, desviando o olhar das ruínas de um dos lugares mais mágicos do mundo, enquanto o meu se mantém fixo naquela magnificência tão fácil de sentir e tão difícil de explicar.
E quando passo a porta de acesso à cidade, encimada por um enorme monólito, parece que ouço a voz de Sonia Morales, como se fosse o eco de Machu Picchu. “Tomare para olvidarte/ Por que se que tu jamas volveras.”