Duarte confessa à Fugas que a primeira hipótese pesada para as férias foi viajar para o estrangeiro, mas depois ambos pensaram melhor. “Apercebemo-nos de que não conhecíamos assim tão bem Portugal”, conclui. Por isso, partiram rumo a Coimbra, fazendo a ponte com Guimarães, Porto e Braga, a paragem que os conduziu ao Parque Nacional Peneda-Gerês e à Pousada de Vilarinho das Furnas, a maior da rede e uma das mais concorridas. “É espectacular! Está isolada no meio das montanhas, mas ao mesmo tempo tem tanto a oferecer”, solta Catarina do alto da juventude. Mas a opção por um Intra_Rail não foi das mais comuns. A média de utilizadores no país ronda os 1000 por ano, sendo que a grande maioria dos amantes do comboio prefere atravessar fronteiras, recorrendo ao famoso InterRail.
Embora a experiência intra seja apenas possível até aos 30 anos (quando a CP lançou o Intra_Rail+30, a procura foi “praticamente inexistente”, adianta a empresa), a juventude que mais conta nas pousadas é a de espírito. “Isto é da juventude, mas vem cá gente de todas as idades”, confirma Nuno Santos, recepcionista em Idanha-a-Nova, que nos indica o Vamos ao Manteigas para o jantar tardio de quem chegou à campanha algumas boleias falhadas depois (desde Castelo Branco, são 38,70 euros de táxi. Se a greve não nos tivesse apanhado, o bilhete de autocarro teria custado 4,10 euros).
É nas margens de uma bifana, perto das ruínas do castelo, que nos contam dos preparativos da romaria. “Este fim-de-semana são as Festas da Nossa Senhora do Almortão. Chegam a estar cá 7000 pessoas.” Talvez por isso, “amanhã a pousada vai encher”, comenta Nuno. Mas mesmo sem romaria, a vila de senhores e pastores, das rotas da Egitânia e dos Barrocais vale o acordar numa manhã de nevoeiro. Nem que seja para partir cedo rumo a outras paragens. É que estar aqui pode ser para sempre, já que Idanha é “a terra das oportunidades”, como declarou em Março o presidente da autarquia local no lançamento do programa “Recomeçar”, que visa atrair novos moradores à ruralidade.
“Aguentar o comboio”
Embora aliciados, trocamos a terra pelo ferro, dando corda à viagem. É preciso um dia para chegar a Alijó, com um autocarro, uma merenda, paragens no Entroncamento, no Porto e no Pinhão, boleias ausentes, costelinhas de assuã e um táxi pelo meio. À sexta-feira, o inter-regional que liga o Entroncamento ao Porto segue cheio. “É um comboio mais para os militares”, anota o funcionário da bilheteira, prevenindo do tempo apertado entre ligações: “Só têm 10 minutos para trocar no Porto, mas se virem que vão atrasados, falem com o revisor para ele aguentar o comboio.”
Graffiti de um lado a esconder os montes, janelas translúcidas viradas para o Douro. Em tempo de guerra, não se limpam vidros. A carruagem enche de cabelos louros e pernas esguias. São estrangeiros que ouviram falar do Alto Douro Vinhateiro como o lugar onde as uvas formaram em sumo o paraíso. Desde que a região foi classificada como Património Mundial da Humanidade, em 2001, o turismo tem aumentado significativamente. No ano passado, 600 mil pessoas viajaram pela Via Navegável do Douro (mais 45 mil do que em 2013), segundo o Instituto da Mobilidade e dos Transportes.