Fugas - Viagens

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As cidades que se recusam a dormir

- Há beleza em todo o lado: nos velhos edifícios que resistiram a todas as perturbações, como terramotos, e que ainda estão de pé; nas suas pontes que parecem estender-se infinitamente e nas suas ruas baptizadas com nomes de famosos ou de revoluções históricas.

Não haverá experiência no mundo que potencie mais a adrenalina: estradas congestionadas e caóticas elevam-se sobre as suas artérias, centenas de milhares, como um formigueiro enlouquecido, procuram abrir caminho por entre um trânsito que se eterniza e inferniza; vivendo ou sobrevivendo, guiam-se através das fragrâncias, dos vendedores de rua que se colocam estrategicamente nas esquinas das ruas, do cheiro a tabaco que se insinua nos cafés e nas esplanadas e sobe nos céus, do aroma a Karkadeh. - A maior parte das pessoas identifica o Cairo pelas pirâmides de Giza. É meia verdade, mas há muito mais para visitar, como o Cairo copta, um subúrbio na zona sul que é a parte mais antiga da cidade e onde foi erguida a primeira igreja cristã em África — a Igreja Copta do Egipto, recorda Bahaa Youssef.

O Egipto é um país maioritariamente muçulmano e os cristãos não excedem os 5%. Muitos dos turistas ignoram o bairro copta e, mais ainda, o papel importante desempenhado pelo Egipto no Cristianismo. “… Levanta-te, pega na criança e na sua mãe e foge para o Egipto (…) Porque Herodes vai procurar a criança para a matar (…) Do Egipto chamei o meu filho.” Assim reza o Evangelho de São Mateus (2, 13-15), relatando o aparecimento em sonhos do Anjo do Senhor a José. Segundo a tradição, a Sagrada Família viveu, durante a sua fuga, na igreja de São Sérgio — e o bairro, onde em tempos existiram mais de 20 lugares de culto em menos de um quilómetro quadrado, abriga outras, como a igreja suspensa (el-Muallaqa), a de Santa Bárbara, a igreja ortodoxa grega de São Jorge (Abu Sarga) e aquela que menos indiferente deixa o turista, a da Virgem Maria de el-Zeitoun. 

- E o Cairo Islâmico, conhecido pelo seu traçado de vielas labirínticas e respigos de uma arquitectura imponente. As suas ruas são barulhentas, movimentadas, cheias de dejectos de animais, mas se encontrares algum tempo para te adaptar, seguramente que não te vais arrepender, percorrendo algumas das suas atracções, como Khan el-Khalili, o mercado vibrante e caótico da cidade, cheio de vendedores de joalharia egípcia, de recordações e especiarias, entre muita outra parafernália, aconselha Bahaa Youssef.

Em Khan el-Khalili, o bairro imortalizado no livro homónimo por Naguib Mahfouz, Prémio Nobel da Literatura em 1988, os aromas são distintos do resto da cidade — a poluição dá lugar aos condimentos, aos remédios medicinais e aos afrodisíacos. Situado próximo da mesquita do sultão Al Ashraf Barsbey, responsável por ter convertido o comércio de especiarias num monopólio do Estado para financiar a tomada de Chipre em 1426, o Khan el-Khalili é um mundo onde se aventuram menos turistas do que noutros lugares do Cairo e muitos deles não passam as fronteiras do Fishawi, o café que está aberto dia e noite há mais de 200 anos e onde o grande escritor egípcio gostava de se sentar a beber o seu chá enquanto buscava inspiração para as suas obras que tão bem retratam esta cidade rasgada pelo Nilo.

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